O sonho da casa própria, praticamente soterrado quando a Caixa reduziu de 80% para 50% o limite de parcelamento para imóveis usados, voltou a ganhar fôlego quando o banco elevou a margem para 70% no início de março. Mas a alta dos juros logo em seguida colocou no centro das discussões se é a hora certa de comprar a casa nova.
Especialistas em investimentos e consultores financeiros têm recomendado cautela: como subiram demais, os juros jogam as parcelas para cima, trazendo um compromisso mensal pesado em tempos nos quais a inflação ceifa fatias gordas da renda familiar. E ainda há o risco considerável da perda do emprego.
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– A alta dos juros significa uma dívida ainda maior. Não estamos falando de uma peça de roupa em promoção, mas de um financiamento de longo prazo. É preciso analisar minuciosamente as finanças e fazer simulações antes de fechar negócio – alerta Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros.
Uma alternativa para suavizar o empréstimo imobiliário é utilizar dinheiro guardado para aumentar a entrada, mas esta também é uma escolha que merece parcimônia, sugere Alexandre Wolwacz, sócio-fundador do Grupo L&S, especializado em investimentos, dentre eles imobiliários:
– Ainda estamos no meio de uma crise econômica e política. Abrir mão de um bom investimento para comprar um imóvel à vista, e ficar sem reserva financeira, é arriscado.
Um fator que pesa contra a compra do imóvel é a resistência dos proprietários ou construtoras em baixar os preços, mesmo com o mercado cambaleante, dizem os consultores. Segundo o índice FipeZap, apesar da crise, o preço do imóvel subiu 2,8% em Porto Alegre nos últimos 12 meses – se é mais baixo do que a inflação no período, também evidencia a persistência dos preços em patamares altos.
Especialistas em mercado imobiliário avaliam que os donos de usados esperam o mercado se reaquecer para vender com margens melhores. Além disso, as construtoras puxaram o freio de mão nos lançamentos, e isto tem impedido queda de preços.
Pagamento de aluguel pode ser boa saída
Os melhores negócios dependem de filtrar imóveis com bom custo-benefício, em bairros com potencial de valorização, e encontrar vendedores dispostos a oferecer condições atraentes, observa Gilberto Cabeda, vice-presidente de comercialização de imóveis do Secovi/RS. Parte dos proprietários passou a flexibilizar os preços, aceitando inclusive imóveis de menor valor e automóveis como parte do pagamento. No caso de imóveis novos, as construtoras têm oferecido descontos em torno de 8% para pagamentos à vista ou parcelamento de curto prazo na planta.
– O mercado está parado desde o início do ano passado, e isto, de certa forma, tem levado os vendedores a receber propostas de bom grado – diz Cabeda.
A alta nas taxas de juros que remuneram investimentos como CDBs, Títulos do Tesouro Direto e Fundos de Renda Fixa é a mesma que vai pesar na parcela dos empréstimos imobiliários. Portanto, quem tem dinheiro guardado tem chance ou de obter um rendimento gordo ou de usar o valor para dar de entrada em um imóvel, baixando a parcela. Consultores financeiros acham a primeira hipótese mais interessante – sob a ótica meramente financeira, é claro, sem considerar o prazer de ter um lar para chamar de seu.
Alexandre Wolwacz sugere que é mais vantajoso manter uma aplicação e, com o rendimento, pagar um aluguel, podendo ver ainda a poupança crescer.
– Entre ganhar 14% ao ano em um título público, e pagar juro de 11% no financiamento, é melhor ganhar no investimento e aumentar a poupança para mais adiante pagar à vista e obter algum desconto, ou comprar um imóvel melhor – afirma.