São tantas e tão detalhadas as informações do Ministério Público da Suíça sobre as contas do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que muita gente ficou intrigada: a Suíça não é um paraíso fiscal, onde contas são numeradas e ninguém sabe a quem pertencem? Já foi. Não é mais. Desde a Idade Média, as montanhas dos Alpes suíços eram usadas – literalmente, em cavernas naturais ou escavadas – para esconder fortunas de senhores feudais por banqueiros de Genebra e Zurique.
Com o tempo, a tecnologia se tornou aliada de quem buscava anonimato – as formas mais bizarras de proteger a identidade dos correntistas são parte de filmes de James Bond a reais escândalos internacionais. Há mais de uma década, o país é pressionado pelo Grupo de Ação sobre Lavagem de Capitais (Gafi, na sigla em francês), ligado à Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), por ser destino de dinheiro mal-havido. A organização expõe, de forma periódica e pública, uma ''lista negra'' de países sem transparência no sistema bancário. Com o tempo, a Suíça saiu da cor preta para a cinza. Até o ano passado, estava em companhia de Botswana e Líbano nesse quesito.
Um dos fatores cruciais para a mudança foi a última crise financeira internacional. Até 2008, o sigilo bancário no país era considerado ''inegociável'', na expressão do então ministro das Finanças Hans-Rudolph Merz. No ano seguinte, a Suíça cedeu à pressão da OCDE e aprovou a quebra de sigilo em investigações de fraude e sonegação fiscal. Cunha devia estar muito ocupado em negociações – na época, era vice-presidente da CPI do apagão aéreo – para prestar atenção nas transformações do endereço mais elegante de dinheiro sujo.
Depois de muita pressão, em meados do ano passado, a Suíça aprovou uma nova regulação, segundo a qual clientes estrangeiros de bancos locais não serão mais informados com antecedência da transmissão de dados sobre contas ao fisco dos seus países. A partir de janeiro de 2018, a Suíça e outros 34 países se comprometem a introduzir troca automática de informações de dados. Será a abolição do sigilo bancário de clientes estrangeiros. Com mais controles e transparência, nem jesus.com salva.