Se o anúncio do Planalto de cortes e aumentos de impostos para transformar o buraco de R$ 30,5 bilhões em uma reserva de R$ 34,4 bilhões passou a impressão de improviso, as discussões do dia seguinte só reforçaram essa percepção.
Entre o desastre do orçamento deficitário e a incerteza do sucesso na obtenção dos recursos necessários para o superávit de 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB), o mercado também reagiu dividido: a bolsa iniciou o dia no vermelho, trafegou horas em terreno positivo e fechou quase no empate. Outro termômetro dos humores do dinheiro, a cotação do dólar voltou a subir depois de ter recuado diante da expectativa favorável do dia anterior.
O dia foi de pouco esclarecimento - nem a Receita Federal sabe como vai funcionar o desconto do IOF caso seja aprovada a CPMF de 0,20% - e muito bate-boca. Segundo relatos não confirmados, tampouco desmentidos, o ministro Joaquim Levy teria cedido à provocação de um parlamentar do PSB sobre a natureza recessiva de suas medidas. Como se sabe que esse debates têm sido acesos dentro do próprio governo, e o atrito só acentua as dificuldades de aprovação de medidas rejeitadas de antemão, o balanço não foi positivo para o governo.
Um apoio inesperado veio da fonte da ameaça mais imediata: da agência Moodys. Nesse momento, representa o maior risco de perda da condição para manter no Brasil recursos de fundos de pensão institucionais. A maior parte exige duas notas em grau de investimento. A Fitch, a terceira grande agência, tem nota em dois degraus antes do grau especulativo, e é raro o rebaixamento em dois níveis.
Pois da Moodys, que tinha nota no mesmo patamar da Fitch e rebaixou a nota do Brasil, no mês passado, veio a avaliação de que o pacote foi "positivo". Em nota, o analista Mauro Leos avaliou as medidas como "uma tentativa de demonstrar que está no controle e lidando com a situação fiscal de forma proativa."