Parada por falta de gás argentino, a termelétrica de Uruguaiana tem destino incerto. Governo federal e AES, dona da unidade, transferem um para o outro a decisão sobre o futuro da usina. Fontes ligadas à empresa afirmam que a companhia tenta estabelecer contrato mais vantajoso com o Ministério de Minas e Energia, que resiste para não repassar o custo aos consumidores.
"A usina é um empreendimento privado. Perguntas sobre sua gestão devem ser encaminhadas aos seus controladores", informou o Ministério de Minas e Energia em nota. "A articulação para disponibilização do gás é feita em ambiente federal, entre os governos do Brasil e da Argentina, e a AES Brasil aguarda definição", afirmou a companhia, também por comunicado.
Governo pretende desmontar usina de Uruguaiana
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Considerada o início de um projeto que seria um marco para a integração energética do Mercosul, a usina acabou ao longo dos últimos anos isolada pela falta de investimentos brasileiros e interesse argentino. Sem receber gás do país vizinho e sem gasodutos vindos de Rio Grande (o projeto ficou no papel), a termelétrica está sem produção.
A realocação da térmica não é descartada - foi proposta por Maurício Tolmasquim, presidente da Empresa de Pesquisa Energética, vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Mas especialistas no setor têm dificuldade em dimensionar o custo que seria desmontar uma termelétrica do porte da AES Uruguaiana porque nenhuma operação semelhante foi feita no Brasil até hoje. Em 2001, ano de racionamento, houve deslocamento de algumas usinas, mas as unidades eram muito menores, com capacidade entre 15 e 20 megawatts (MW) e construídas a partir de módulos-padrão. A de Uruguaiana tem capacidade instalada de 640 megawatts (MW).
Não é a primeira vez que é considerada a possibilidade de transferir a termelétrica para outra região do Brasil. Em agosto de 2008, quando o impasse com o vizinho argentino ficou exposto, o então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, chegou a cogitar a alternativa.
Instalada em Uruguaiana em dezembro de 2000, a térmica operou sem grandes problemas até 2004. Quando começou a crise energética na Argentina, o grupo Repsol/YFP começou a descumprir contratos de fornecimento de gás natural. Entre 2005 e 2006, em decorrência do problema, a usina alcançou geração de 200 MW a 229 MW. Em 2007, o volume caiu para 90 MW. A partir daí, operou parcialmente durante curtos períodos com gás importado de outros países.
As alternativas
Inaugurada em 2000, a usina de Uruguaiana tem potência instalada de 640 megawatts, suficiente para abastecer 2 milhões de residências. Nos últimos oito anos, tem operado parcialmente por curtos períodos.
1 Desmontar a usina
É a proposta levantada pelo presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim. A usina seria reinstalada em uma área metropolitana no centro do país onde tenha gás e carga para consumir energia.
2 Renegociar com Argentina
É a alternativa mais barata para resolver a questão, mas bastante improvável. Com escassez do combustível, a Argentina não tem interesse em voltar a fornecer gás para o Brasil agora. O contrato estabelecido entre os dois países não prevê multa.
3 Novo gasoduto na Argentina
O governo do Estado de Corrientes, na Argentina, procurou o governo gaúcho para propor a criação de um novo gasoduto na região para trazer gás vindo da Bolívia. A ideia é considerada "interessante" financeiramente por especialistas, mas o Brasil continuaria dependente dos países vizinhos.
4 Novo contrato com governo
É melhor alternativa para a empresa, mas custaria caro aos consumidores. Com acordo mais vantajoso economicamente, a AES poderia continuar comprando gás liquefeito de outros países, mas o custo seria repassado aos usuários. O governo resiste a essa possibilidade.
5 Gasoduto entre Rio Grande e Uruguaiana
É a melhor opção para desenvolver a região, mas também bastante improvável. O gás importado chegaria até Rio Grande e depois transportado por um gasoduto até Uruguaiana. Essa era a proposta da presidente Dilma Rousseff em 2002, quando ainda era secretária de Energia no RS. O projeto seria executado pela Petrobras, que deixou de lado a ideia após problemas de caixa.