Em tese, a reunião de domingo à noite entre a presidente Dilma Rousseff e ministros da equipe econômica, da área de infraestrutura e da coordenação política seria apenas para definir os últimos detalhes do plano de concessões de aeroportos, portos e rodovias que será apresentado na terça pela manhã.
Iniciativa que deve deslanchar a fase "agenda positiva" do governo federal, depois da guerra legislativa para aprovar as principais medidas do ajuste e do multibilionário corte no orçamento, o pacote testa a profundidade das mudanças na condução da economia.
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Quem acompanha as negociações mais de perto, como o gaúcho Wilen Manteli, presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários, saúda a troca dos critérios para definir o vencedor das licitações. O modelo anterior, que previa menor tarifa e maior movimentação de carga, deu lugar ao pagamento da maior outorga. Do ponto de vista empresarial, a mudança é bem-vista. Segundo Manteli, afasta "empresas especuladoras" e devolve protagonismo às que têm "experiência, conhecimento técnico e capacidade de investimento".
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Estima-se que o plano envolva investimento entre R$ 100 bilhões e R$ 120 bilhões. Uma das grandes dúvidas é se haverá interessados para assumir todas as obras previstas, considerando as dificuldades das grandes empreiteiras, envolvidas na Operação Lava-Jato. Estariam no pacote 14 estradas, ao menos quatro aeroportos, entre os quais o Salgado Filho, em Porto Alegre, obras em outros 270 terminais aéreos regionais, ferrovias, hidrovias e outras atividades ligadas à logística, um dos grandes gargalos do Brasil.
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Mais do que no recheio do pacote, porém, tem muita gente de olho nos acabamentos. As regras para participar das licitações podem confirmar que a mudança no Planalto não respira apenas no Ministério da Fazenda de Joaquim Levy. Foram os detalhes do Programa de Investimento em Logística (PIL), lançado em 2012, que geraram uma queda de braço entre governo e empresariado sobre a taxa interna de retorno. O governo queria limitar os ganhos das empresas, e a briga para alterar essa posição representou o início do processo de perda de confiança dos investidores, que aprofundou a crise.