Os sinais de que nada será como antes no futuro da Petrobras alternam momentos de estresse e de euforia. Ao contrário do que se poderia temer, a estatal foi recebida com festa na OTC, maior feira do planeta de exploração offshore (em alto mar). Recebeu o mais importante prêmio do segmento, o OTC Distinguished Achievement Award ainda na noite de domingo. Foi um reconhecimento às tecnologias desenvolvidas na exploração do pré-sal. As salas destinadas a receber candidatos a fornecedores lotaram, conforme relato de Marcus Coester, coordenador do Comitê de Competitividade em Petróleo, Gás, Naval e Offshore da Fiergs.
O momento de trégua se refletiu na Bolsa de São Paulo, onde as ações da Petrobras subiram mais de 5%. O motivo não foi o reconhecimento de sua capacidade técnica, mas a admissão de sua incapacidade de estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Os papéis voaram soprados por uma entrevista do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, à Bloomberg, também durante a OTC. Na conversa, ele chegou a afirmar que estava "sendo discutida" a possibilidade de desobrigar a estatal a operar todos os campos do pré-sal. Só que, mal fechou o mercado, Braga desmentiu um estudo formal do governo sobre o tema e afirmou que a defesa da possibilidade de a Petrobras optar participar ou não da operação é pessoal.
Entre as centenas de empresas que se prepararam para garantir conteúdo nacional, ainda domina o temor de revisão dessa regra. Muitas investiram, longe dos esquemas de combinação de resultados em troca de gordas propinas, e agora se inquietam com sinais de alteração da política. Na avaliação de Coester, as duas mudanças são complexas. A possibilidade de a Petrobras escolher se participa ou não da operação de 100% dos campos do pré-sal depende de uma complexa negociação no Congresso. A exigência de conteúdo nacional não pode, legalmente, retroagir - a maior dificuldade é cumprir os contratos atuais -, e uma revisão para o futuro seria inócua, ou seja, não representaria solução. Mas alguma mudança virá.
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