O anúncio de mais uma safra recorde no Rio Grande do Sul é um alento em um ano em que as projeções para a economia são bastante pessimistas. O bom desempenho do campo não conseguirá impulsionar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) gaúcho em 2015, mas deve evitar queda expressiva.
Considerando a atual safra de verão e sem contar os reflexos indiretos da produção na indústria e serviços, a previsão é que devem entrar na economia R$ 23,05 bilhões, conforme dados divulgados nesta quarta-feira pela Emater. O resultado contagia os demais setores da economia e deve dar fôlego especial para a indústria - que vem de desempenho em baixa nos últimos meses. Mais insumo para a produção e dólar alto podem ajudar as fábricas a voltar a operar no azul no decorrer do ano.
- A produção recorde de grãos, de 28,97 milhões de toneladas, no entanto, não deve gerar um "pibão" porque apesar da quantidade física produzida ter aumentado, o ganho do produtor por tonelada ficou menor, reflexo do aumento de custos e da queda de preço no mercado internacional - explica o economista Gabriel Torres.
É como se mesmo com aumento da produção de grãos, a quantidade em dinheiro em circulação não aumentasse, ou pelo menos não na mesma medida.
Além disso, inflação mais elevada, mercado de trabalho menos aquecido e falta de confiança dos consumidores podem servir de barreiras para que os efeitos benéficos da supersafra cheguem com mais força no setor de serviços, alerta o especialista. Para aumentar a venda de bens, não basta ter dinheiro na carteira. Será preciso convencer as pessoas que é o momento de gastar.
Economista da Fundação de Economia e Estatística (FEE), Rodrigo Feix pondera que apesar do cenário econômico atual turbulento, o aumento de renda do agricultor tem reflexos importantes nas diferentes regiões do Estado, seja de produção agrícola, seja de máquinas e equipamentos, outro importante setor impulsionado pelo bom desempenho do campo. O especialista ressalta que, embora a alta do diesel e da energia tenha impactos relevantes, os aumentos ocorrem em um momento em que os produtores estão capitalizados, reflexo de três anos consecutivos de boa safra.
- Não à toa a área de produção irrigada tem crescido nos últimos anos. Há uma preparação para eventuais secas que possam ocorrer daqui para frente, evitando ficar tão dependentes do clima - afirma.
Para Celso Pudwell, economista do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e professor da PUCRS, a safra recorde impede que o Rio Grande do Sul tenha recuo no PIB em 2015 e permite projeção melhor para os anos seguintes.
- São resultados que amortecem a queda brusca no ritmo da economia. Sem dólar e sem soja teríamos um recuo de 3% a 4%. Muito ruim. Agora, teremos um resultado próximo de zero,
o que em um cenário como o atual é algo a ser comemorado, e pode servir de base para um avanço mais sólido no futuro - afirma Pudwell.
Ciclo virtuoso da colheita
1 Ao aumentar a produção e vender mais, o produtor tem mais dinheiro para investir no campo e consumir no comércio e serviços.
2 Com aumento nas vendas, o comércio é estimulado a comprar mais da indústria para suprir a demanda dos clientes.
3 Ao contratar mais pessoas para atender à demanda dos consumidores, comércio, serviços e indústria estimulam a economia. Mais emprego significa mais gente com renda disponível para consumir.