Enquanto no Palácio do Planalto se discute o que é preciso mexer na Esplanada para devolver capacidade de articulação política, na planície cresce a pressão para que a reforma em preparação embuta algum corte de autoinfligido. E a pressão não vem só de adversários da presidente Dilma Rousseff.
Especialmente no meio empresarial, apoiadores do governo identificam no corte do número de ministérios uma das poucas respostas eloquentes, a esta altura, às queixas das ruas. Até para pavimentar o caminho do ajuste fiscal. Uma coisa é o governo impor sacrifícios para empresários e trabalhadores. Outra, bem diferente, é cortar na carne no momento em que informa que não tem mais nada a fazer para poupar a economia de um aperto severo.
O tamanho sugerido do corte varia conforme o grau de proximidade - e identificação - com o governo. Os que conhecem melhor as dificuldades de lidar com um Congresso em plena rebeldia são mais modestos. Quatro pastas, cerca de 10% do total, seria o suficiente. Os menos complacentes não entendem porque o atual governo não poderia funcionar, até melhor - teria menos gente para atrapalhar -, com 10 ministérios a menos. Ainda seria um total de 29.
Na fase de humildade que marca a estratégia do Planalto pós 15 de março, seria um gesto poderoso para marcar a transposição do discurso para a prática. E embarcar junto na fase de aperto, reforçando a mensagem de que será passageira. Dada a repetição de panelaços a cada manifestação de integrantes do governo, é possível que essa alternativa seja guardada para um eventual recrudescimento dos protestos. Foi uma oportunidade perdida antes da posse. É preciso cuidado para não voltar a ficar no caminho.