O empenho feito até agora para elevar receitas e diminuir gastos para alcançar o superávit primário equivalente a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 - ou R$ 66,3 bilhões - ainda vai exigir esforço extra, avaliam especialistas. O entendimento de que algo a mais é necessário foi reforçado pelo resultado das contas públicas do primeiro bimestre, divulgadas nesta terça-feira. Entre janeiro e fevereiro, a economia para pagar os juros da dívida pública foi de R$ 3,09 bilhões, o menor em seis anos.
Para o economista Bernardo Fajardo, pesquisador de contas públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV), o resultado do primeiro bimestre, extrapolado para o restante do ano, indicaria que o superávit primário seria de apenas 0,9% do PIB, abaixo do acenado pelo governo federal.
- As despesas estão bem comportadas. O crescimento foi zero ante o mesmo período do ano passado. Mas as receitas caíram 4,6% porque a atividade econômica está muito fraca - analisa Fajardo.
Para o especialista, o caminho mais viável para melhorar o resultado seria pelo lado da receita. E com o aumento de tributos.
- Mas como fazer é a pergunta de US$ 1 milhão. E também fica difícil pela crise política - acrescenta.
Embora também compartilhe a impressão de que o esforço até agora é insuficiente, o especialista em contas públicas Raul Velloso discorda da forma. Para ele, é no corte de despesas que o governo precisa encontrar espaço para garantir o superávit primário prometido. Entre as alternativas, aponta Velloso, está "um grande adiamento dos gastos":
- Onde houver a menor resistência - aponta Velloso, indicando que o Planalto terá de testar em que áreas poderá fazer cortes.
Melhorar o resultado fiscal pela receita seria mais difícil devido à estagnação da economia e a resistências no Congresso para elevar a carga tributária, entende.
- Não está em discussão fazer ou não o ajuste fiscal. E sim, como vamos fazer para fechar as contas. Se não, poderemos perder o grau de investimento, como disse o ministro. Isso levará a uma gigantesca fuga de capitais, com a explosão das taxas de câmbio, inflação e juro - alerta Velloso.
O saldo das contas públicas nos últimos 12 meses (até fevereiro) está negativo em R$ 35,8 bilhões. A promessa da Fazenda é terminar o ano com resultado positivo de R$ 66 bilhões.