É certo que os problemas da Rússia têm magnitude maior do que os do Brasil, ao menos até agora. Mas o rebaixamento da nota da dívida soberana russa (correspondente aos títulos públicos do governo central) mostra que as agências de classificação de risco tentam polir a credibilidade arranhada com a crise de 2008. Uma das três grandes, Standard & Poor's, cortou nesta segunda-feira a nota dos papéis russos de BBB- para BB+.
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A mudança de sinal e a perda de uma letrinha na sopa da análise de crédito, neste caso, corresponde à perda do grau de investimento, ou como se convencionou chamar no Brasil, do selo de bom pagador.
É a primeira vez que isso ocorre em mais de uma década. E reforça o temor de que outras letras possam ser afetadas pelo movimento das agências.
A ênfase nos cortes de despesas e aumento de impostos do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, segue a moldura da avaliação da nota de crédito. Caso o Brasil seja novamente rebaixado neste ano, como já foi no início de 2014, também pela S&P, desta vez perde seu selo de bom pagador.
Tinha notas dois graus acima do limite, agora tem uma. E daí?, perguntam muitos brasileiros. A vida por aqui segue igual - ou pior com os aumentos de impostos que pode custar manter a carteira desse clube exclusivo.
A perda do grau de investimento freia o investimento externo no país que perde essa credencial, por um motivo simples: a grande maioria das fundações americanas só é autorizada a aplicar seu dinheiro em países considerados "confiáveis". Sem esse volume de recursos, escasseiam dólares no mercado interno. Essa conta, todo mundo sabe fazer: quanto menor a oferta, maior o preço. E dólar mais caro é igual a inflação maior.