John Bruton foi primeiro-ministro da Irlanda entre 1994 e 1997, quando o país cresceu a taxas médias de 8,7% ano, chegando a 11,17% em 1997. Conduziu o acordo com a Irlanda do Norte e ajudou a formalizar o Pacto de Estabilidade e Crescimento da União Europeia, que rege a gestão do euro. Bruton fará a palestra especial de abertura do 27º Fórum da Liberdade, que ocorre segunda e terça-feira, em Porto Alegre.
O evento, organizado pelo Instituto de Estudos Empresariais (IEE), tem como tema Construindo Soluções, uma resposta aos movimentos registrados no país em 2013 e aos eventos programados para este ano, como Copa do Mundo e eleições. Além de Bruton, o fórum terá a presença de Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, e de Jeffrey Tucker, CEO do site colaborativo Liberty.me, entre outros convidados.
Zero Hora - O senhor é conhecido como o primeiro-ministro que ajudou a transformar a economia irlandesa no Tigre Celta. Qual foi sua principal inspiração?
John Bruton - A economia da Irlanda cresceu de forma acelerada durante meu mandato. Colhemos os frutos de mudanças feitas 30 antes, como política de baixa cobrança de impostos a corporações (1956), abertura para livre comércio (1966 a 1973), educação de segundo grau gratuita (1966), entrada na União Europeia (1973), investimentos em educação tecnológica (meados de 1980), recebimento de impostos aprimorado (1987), aprimoração da Justiça (meados de 1990) e uma agressiva promoção ao investimento externo direto (de 1960 até hoje). Por outro lado, a crise do preço do petróleo (1974), políticas fiscais irresponsáveis (de 1977 a 1981), aumento das taxa de juros internacionais (no início de 1980) e taxa de câmbio instável (1993) atrasaram o crescimento da economia irlandesa.Outro importante fator que postergou nosso crescimento até os anos entre 1994 e 1997 foi a demografia. A Irlanda tinha uma grande taxa de natalidade até o início da década de 1980. Isso manteve mulheres fora do mercado de trabalho pago e aumentou os custos de educação. Em meados de 1990, muitas destas crianças estavam entrando no mercado de trabalho, a taxa de natalidade havia caído e as mulheres estavam mais livres para trabalhar. Como resultado, a mão de obra disponível na Irlanda em meados de 1990 era o dobro do que era no início de 1980.
ZH - Quais foram as medidas que tornaram possível um crescimento de 11,1%, como o de 1997?
Bruton - Além do que eu já citei, trabalhamos com sucesso para acabar com as ações terroristas na Irlanda do Norte, o que ajudou economicamente. Também instituímos uma política de tributação das empresas em 12,5% no geral, que ampliou a propagação do crescimento econômico. Cuidamos das finanças públicas de forma prudente.
ZH - Uma década depois, a Irlanda enfrentou a explosão da bolha. Houve alguma relação entre os anos de crescimento e a crise?
Bruton - Na verdade, não. Os fatores que levaram ao estouro da bolha em 2008 se originaram no período de 2000 a 2006. Durante essa época, houve um boom de construção, e um consequente aumento temporário nas receitas. O governo da época tratou essas receitas temporárias como se fossem permanentes e aplicou aumentos no nível de gastos, incluindo as taxas de salários e pensões. Essas medidas mostraram-se insustentáveis quando a economia virou de cabeça para baixo. Enquanto isso, as pessoas na Irlanda pediam dinheiro emprestado para comprar uma segunda casa ou para pagar caro por sua residência principal. Eles, os bancos irlandeses que lhes emprestavam dinheiro e os bancos estrangeiros que financiavam os irlandeses, todos assumiram que essas condições inerentemente temporárias eram permanentes. Esse foi um grande fracasso das políticas adotadas pelas autoridades.
ZH - Além da crise, a intervenção do FMI e a falência dos bancos, hoje a Irlanda tem a mesma classificação do Brasil. A Irlanda é supervalorizada, o Brasil é subestimado, vice-versa, ou ambos têm realmente o mesmo nível?
Bruton - O Brasil tem muitos recursos naturais que a Irlanda não tem. Uma população mais jovem como a que permitiu a Irlanda crescer tão rapidamente na década de 1990. O Brasil deu passos importantes para garantir que mesmo os filhos dos cidadãos mais pobres frequentem a escola e trabalhem duro. A dívida do Brasil em relação ao PIB é menor do que a da Irlanda. Por outro lado, a Irlanda goza da estabilidade decorrente de ser parte da União Europeia. A Irlanda tem uma boa reputação de integridade na administração pública, e os erros são expostos. Eu acredito que as agências de rating são seguidoras da moda, e frequentemente erram em seus julgamentos. Elas não olham por trás das estatísticas para ver os pontos fortes e fracos das diferentes sociedades reais. As agências de rating deveriam contratar mais historiadores, para cometer menos erros.
ZH - Qual é o seu papel na economia da Irlanda hoje?
Bruton - Trabalho para empresas privadas, promovendo investimentos na indústria de serviços financeiros. A Irlanda é um centro global de leasing de aeronaves, para administração de fundos e serviços bancários e de seguros internacionais. Eu também sou presidente da Plataforma Europeia de Materiais Sustentáveis.
Fique atento
O que: 27° Fórum da Liberdade
Quando: 7 e 8 de abril
Onde: Centro de Eventos da PUCRS (Av. Ipiranga, 6681, prédio 41), em Porto Alegre
Inscrições: forumdaliberdade.com.br
Informações: (51) 3335-1588 e contato@forumdaliberdade.com.br
PROGRAMAÇÃO
Segunda-feira - 7 de abril
18h30min - Abertura
19h30min - Entrega dos prêmios Libertas para Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central) e Liberdade de Imprensa para Julio Saguier (presidente da fundação e jornal La Nacion)
20h - Palestra especial com o ex-primeiro-ministro da Irlanda John Bruton
20h40min - Painel Competitividade, com Aécio Neves (senador e presidente nacional do PSDB), Eduardo Sirotsky Melzer (presidente-executivo do Grupo RBS) e Patrice Etlin (sócio-gerente mundial da Advent)
Terça-feira - 8 de abril
9h - Painel Educação, com Chris Arnold (presidente da The Smaller Earth Group), Eugenio Mussak (escritor e fundador da Sapiens Sapiens) e Rodrigo Constantino (presidente do Instituto Liberal)
10h30min - Painel Saúde, Claudio Lottenberg (presidente do Hospital Israelita Albert Einstein), José Cordeiro (professor-fundador da Singularity University) e Luiz Felipe Pondé (escritor e filósofo)
14h - Painel Democracia e Estado de Direito, com Luiz Felipe D'Ávila (jornalista e cientista político), Ives Gandra Martins (jurista) e Godfrey Bloom (parlamentar europeu)
15h30min - Palestra especial com Jorge Gerdau Johannpeter ( presidente do conselho de administração da Gerdau)
16h10min - Painel Finanças Públicas, com Marcelo Rebelo de Sousa (membro do Conselho de Estado de Portugal), Gustavo Franco (ex-presidente do Banco Central) e Andrew Schiff (diretor de comunicação e consultor de investimento da Euro Pacific Capital)
17h40min - Painel Livre Mercado, com Leandro Narloch (jornalista), André Azevedo Alves (coordenador científico do Centro de Investigação do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa) e Jeffrey Tucker (CEO do site colaborativo Liberty.me)