Atributos positivos nunca faltaram para a Petrobras. Maior empresa do país, ação mais popular e negociada da bolsa brasileira, porta de entrada ao mercado para milhões de pequenos investidores que viam no papel a chance de ganho fácil e oportunidade de trabalhadores turbinarem o FGTS, a estatal virou uma decepção. Hoje, vale quase tão pouco como no auge da crise global. Sofre bem mais do que a Vale, com peso relativo semelhante, e tem perdas muito superiores às do Ibovespa.
Em meio à debandada geral das bolsas em 2008, a ação preferencial da Petrobras, a que mais movimentava os negócios, chegou ao fundo do poço no dia 21 de novembro, cotada a R$ 13,78. No embalo da recuperação do mercado, valorizou duas vezes em meia e, em dezembro de 2009, chegava a R$ 34,57. Nesta segunda-feira, caiu quase 6%. Está a sete centavos do fundo do poço e nada indica uma reação no curto prazo, dados os problemas da empresa e o próprio fluxo de saída de dinheiro do país rumo aos EUA.
Para o mercado, três fatores levaram a Petrobras ao quadro atual:
1. O primeiro é a ingerência na empresa. Deixando o acionista em segundo plano, o governo usou a Petrobras para fazer política industrial, impondo altos índices de nacionalização a seus navios e plataformas. Para analistas, sairiam mais baratos se feitos no Exterior.
2. Derivada do primeiro, a interferência na política nos preços, limitando o reajuste dos combustíveis para segurar a inflação, afeta o caixa da empresa.
3. O alto endividamento devido a projetos de longa maturação que não se sabe quando começarão a dar retorno. A dívida líquida chegou em setembro a R$ 193 bilhões.
Pode se esperar uma reversão? Para o analista Matias Frederico Dieterich, da Solidus Corretora de Valores, a reação das ações da Petrobras depende de a empresa cumprir o que promete. Como o aumento da produção de petróleo, que tem ficado abaixo do estimado pela companhia. Na sexta-feira, a Petrobras informou que a extração ano passado ficou em 1,93 milhão de barris/dia, 2,5% abaixo de 2012. Novamente a meta não foi alcançada. A projeção da empresa é dobrar o volume até 2020, reflexo do pré-sal.
- Será que isso se confirma? A Petrobras não costuma entregar o que promete - questiona Dieterich.
Ainda este ano, também é esperado um novo reajuste da gasolina. Mas, claro, confirmado só depois das eleições.