Tem gente assustada - não sem razão, à primeira vista - com a crise cambial da Argentina. O Brasil não sofre e nem deve passar por situação semelhante, apesar dos sustos do mercado financeiro nestes últimos dias. Temos grandes defesas- leia-se reservas - para nos proteger no caso de o problema se agravar muito. Hoje, o país tem US$ 358 bilhões, valor acumulado com os saldos comerciais do início dos anos 2000.
No país vizinho, esse colchão tem menos de 10% da altura do disponível no Brasil - cerca de US$ 30 bilhões, valor que vem minguando com rapidez. Só no ano passado, por exemplo, os cálculos são de que o governo Kirchner torrou 30% das reservas para tentar segurar a alta do dólar.
As diferenças param por aí. É claro que uma crise argentina pode respingar em outros campos aqui no Brasil, que tem parte substancial de suas exportações direcionadas para lá. No ano passado, de todos os produtos nacionais vendidos ao Exterior, 8% foram encaminhados à fronteira da Argentina, terceiro destino mais importante, depois da China e dos Estados Unidos. Com uma relevância substancial: importa muitos produtos industrializados, como automóveis, um quarto do que o Brasil negocia a partir de fábricas.
Para controlar a queda do peso, uma das ações da Casa Rosada é frear as importações, como se vê na série de medidas protecionistas que o governo argentino vem adotando nos últimos meses.
É claro que, neste contexto adverso, outra preocupação é um alastramento da crise entre emergentes, ou melhor, um cenário de piora na perspectiva de risco em relação a esses países, principalmente os latinos. A situação não melhora com os problemas internos do Brasil: inflação alta, apesar da subida do juro. Efeito que, por enquanto ainda não se viu, como o governo pretendia.