Quando Isabelle Olsson, chefe de design industrial do Google Glass, chegou ao estúdio da estilista Diane von Furstenberg em Nova York para colocar o novo acessório nas modelos, estava preocupada com as cores.
A paleta atual de armações para o óculos que se conecta à internet é limitada: algodão (branco), tangerina (laranja), céu (azul) e dois tons de cinza. Embora usar turquesa ou coral possa ser muito bacana no Vale do Silício, Isabelle temia um fracasso nas passarelas.
Uma semana mais tarde, no desfile, uma modelo combinava um Glass tangerina com um macacão e outra usava um Glass turquesa acompanhando uma blusinha despojada e uma bolsa. Quando Diane apareceu ao final, estava com um Glass tangerina e era acompanhada por Sergey Brin, um dos fundadores do Google, que usava outro da cor céu.
- Eu amo cores, então sabia que isso era importante - afirmou Isabelle.
Aos 30 anos, ela é uma das mulheres encarregadas de transformar o Glass no próximo acessório de moda. Em posições de comando na área de tecnologia, a proporção é de três homens para cada mulher. No projeto Glass, as mulheres estão na liderança dos projetos de hardware e de negócios.
Além de Isabelle, a equipe inclui Jean Wang, 33 anos, engenheira de hardware à frente dos equipamentos óticos e de áudio, e Kelly Liang, 39 anos, diretora de desenvolvimento de negócios e supervisora das parcerias com desenvolvedores de aplicativos.
Kelly veio de um banco de investimentos onde, segundo ela, sentia-se confortável com o fato de ser a única pessoa sem abotoaduras. Jean contou que, quando ela começou o doutorado em engenharia elétrica, havia cinco homens para cada mulher no curso.
As três têm consciência de que trazem uma perspectiva feminina para o projeto Glass. Uma é pensar sobre os aplicativos que gostariam de ver, razão pela qual Kelly firmou uma parceria com a Elle para desenvolver um que mostre fotos com os estilos das ruas e notícias de moda.
Embora passear com um novo gadget possa ser um símbolo de estilo para o setor tecnológico, um objeto que possa representar uma mudança muito extrema pode ser difícil de vender para pessoas mais acostumadas com os "Gs" da Gucci.
- Uma vez que você coloca uma coisa sobre o corpo, ela se torna uma expressão de quem você é - afirmou Jennifer Darmour, da Artefact, empresa de design para produtos tecnológicos.
O mundo da moda está intrigado por algo que ao mesmo tempo tem o potencial de se tornar uma nova plataforma de compras e um acessório exclusivo. Diane von Furstenberg afirmou que decidiu utilizar o Glass em seu desfile depois de se encontrar com Brin, seu amigo pessoal, usando o óculos e, quando o experimentou, disse ter ficado de queixo caído.
- Os acessórios dizem um pouco mais sobre as pessoas. Eu acredito que usar o Glass mostra o quanto você está engajado, é atual e aberto a coisas novas - contou.
Novos estilos e aplicativos estarão à disposição e tornarão o Glass mais atraente, como armações em diferentes formatos e outras que se adaptam a óculos de grau. Recentemente foi feito um protótipo com uma armação hipster de tartaruga.
Um dos maiores problemas para o design é que os componentes do aparelho são feitos para computadores e telefones e não para gadgets de vestir. O time feminino pressiona os engenheiros para melhorá-los. Kelly e Isabelle foram à Ásia em busca de inspiração, como uma xícara de chá com a borda esmaltada que deu origem à borda preta do Glass.
- Sou louca pelo design do Japão. Quando estamos com dificuldades em algo eu falo pra deixarem mais japonês, ou seja, limpo, bem pensado e equilibrado, mas ousado e inovador - conta Isabelle.
Essa é uma boa forma de descrever como ela incorpora o Glass ao seu visual. Sua cor predileta é tangerina, para combinar com os cabelos ruivos, o vestido curto, a bolsa Givenchy e as unhas pintadas de azul.
Jean prefere carvão, que combina bem com roupas diferentes. Kelly gosta do branco para usar com o Rolex madrepérola que o marido deu de aniversário: um relógio que ela só usa por razões sentimentais, disse, já que o Glass informa a hora certa.