Sociedades familiares costumam ser uma boa maneira de iniciar uma empresa. Muitas vezes, unem-se a vontade de um e o dinheiro de outro e está dado o pontapé inicial do negócio. No entanto, são poucas as famílias que conseguem se manter unidas e alcançar sucesso. É o caso da Fontana SA, que chegou à terceira geração como uma das líderes do mercado de higiene e limpeza e vem conquistando cada vez mais espaço na produção de oleoquímicos.
Cansado da vida no campo, o jovem agricultor Pedro Fontana saiu de casa aos 17 anos, analfabeto, e percorreu diversas cidades do Estado até se estabelecer em Encantado. Na cidade do Vale do Taquari, casou-se com a professora Laura e, com ela, iniciou a fabricação artesanal de sabão. Montados em carroça puxada por mulas, o casal percorreu a região, para vender o produto. Como o mercado ainda era incipiente, a produção deu certo. Em 1934, estava inaugurada a Fontana.
- Naquele momento, a empresa começou conquistando mercados menores e até hoje abastecemos os pequenos. No entanto, com o tempo, conquistamos os grandes e hoje vendemos para multinacionais - conta o diretor Ricardo Fontana.
No ano de 1959, a empresa passou para a segunda geração, sendo administrada por dois dos quatro filhos de Pedro e Laura. Demorou 30 anos para que os empresários adquirissem a primeira máquina. Em 1968, a Fontana começou a produção automatizada e, quatro anos depois, passou a fabricar também sabonetes.
A terceira geração da família entrou em cena nos anos 1980. Com apenas 14 anos, Ricardo Fontana começou a trabalhar na empresa, no turno inverso ao da escola. Desde então, passou por todos os setores da fábrica, até chegar à diretoria no final da década de 1990, onde está até hoje, ao lado do primo Maurício Fontana.
- Comecei como office boy, trabalhei na fábrica, na parte comercial, na financeira e por muitas outras. Acho que foi importante para conhecer todo o processo da fábrica e me tornar um bom administrador - comenta Ricardo, hoje com 44 anos.
Com R$ 40 milhões disponíveis, empresa prepara investimento
Segundo o empresário, trabalhar em família não é fácil, mas tem como pontos positivos a confiança de saber com quem se está trabalhando e a concentração de forças pelo mesmo objetivo. No entanto, conta, foi necessário superar obstáculos para que a empresa desse certo:
- Foi preciso pulso firme para dizer não, porque não tem como todos trabalharem juntos, ainda mais na gerência. Além disso, tivemos de investir bastante em treinamentos para conseguir separar os negócios da família em si.
Ao longo dos 78 anos, a Fontana testou diversos formatos de administração. Em determinado momento, a empresa teve um único presidente e chegou a ter oito gerentes na linha de frente - todos da família -, testou uma superintendência e, em outro momento, contratou uma empresa para gerir os negócios. No entanto, segundo Ricardo, o modelo compacto com dois diretores foi a melhor solução, implementada há cinco anos.
Atualmente, a Fontana tem portfólio de 184 produtos, vendidos para todo o Brasil e exportados para países como Cuba, Uruguai e Equador. Há muitos anos, o carro-chefe tem sido o mercado de higiene e limpeza. No entanto, até o final deste ano, Ricardo afirma que 50% da produção será de oleoquímicos, destinados a mercados como indústria farmacêutica, de cosméticos, de pneus e têxtil, entre outros.
- Lá, em 2004, foi uma aposta arriscada, nem os conselheiros acreditavam na ideia. Mas eu vi que tinha demanda. Como já tínhamos o conhecimento para trabalhar com a matéria-prima, que é a gordura, a mesma para os nossos outros produtos, resolvi apostar - conta Ricardo.
A ideia deu tão certo que a empresa pretende investir R$ 40 milhões nos próximos meses para abrir nova fábrica de oleoquímicos. Falta decidir o local. Embora a sede e a maior parte da produção continue em Encantado, onde a família quer manter raízes, os empresários estudam instalar a unidade na região Centro-Oeste do país. Com o novo investimento, a Fontana estima quase dobrar o faturamento do ano passado até 2013, chegando a R$ 120 milhões.