Não que fosse impossível, mas ter um computador em casa há pouco mais de 30 anos era para poucos. Quando mexer no PC ficou tão fácil quanto ligá-lo na tomada, o mundo se transformou: ninguém precisa saber o que é um chip para criar seu próprio filme, jogo, livro ou mesmo um novo negócio.
Saiba como funciona o equipamento
Em fotos, veja cada passo do processo de impressão
Para Chris Anderson, editor da revista de tecnologia Wired, uma nova transformação se aproxima: a dos objetos físicos. Em seu novo livro, Makers, the New Industrial Revolution, lançado nesse mês pela editora Crown Business (ainda sem versão em português), Anderson especula sobre o que vai acontecer quando pudermos produzir tudo que imaginarmos.
A impressora 3D é a principal agente da nova era. De hobby de engenheiros a equipamento doméstico, a máquina poderia se popularizar em não mais de dois anos, conforme avaliação de especialistas.
- Mal posso esperar para ver o que vai ocorrer quando crianças tiverem acesso a impressoras 3D nas escolas. Elas farão coisas que não podemos imaginar. Terão o poder de não apenas colocar suas ideias na tela, mas imprimi-las. E, se forem legais, imprimir em grandes quantidades, fabricar, tornar-se empreendedoras e competir com as indústrias existentes - explica Anderson em um vídeo no site da Wired.
Hoje, no Brasil, é possível comprar uma impressora 3D de fabricação nacional por R$ 4,5 mil. Em Porto Alegre, Rodrigo Krug administra a Cliever, empresa incubada no Tecnopuc que começou a operar em maio, e, desde então, já entregou 22 unidades. Negócios que trabalham com desenvolvimento de produtos são os principais clientes, já que a produção de protótipos fica mais rápida e barata com o recurso. A Metamáquina, com sede em São Paulo, é uma alternativa baseada em software e hardware livre, mas está com vendas temporariamente suspensas após grande procura inicial.
- A impressora supre uma demanda que nem se sabia existir. Um novo mercado vai começar a surgir, tanto de prototipação quanto de impressão - aposta Filipe Moura, sócio da Metamáquina.
Moura entende que a maior revolução acontecerá entre pequenos e médios empreendedores, para quem, hoje, a construção de protótipos é demorada e cara. Com a nova máquina, o tempo de desenvolvimento de um novo produto é reduzido. Ele cita o exemplo de um cliente que produz peças de bicicleta: a impressora 3D permite que ele teste diferentes modelos em apenas um dia. Mais que isso, facilita a criação de peças customizadas, ao gosto do consumidor.
Outra área que hoje já sente o impacto da novidade é a saúde. A Metamáquina já imprimiu uma réplica de uma artéria aorta a pedido de um hospital de São Paulo, para que médicos testassem a possibilidade de usar o recurso para treinamento antes de importantes cirurgias.
- A aplicação na área de próteses é promissora. É possível fazer a projeção em 3D de um órgão, a impressão, e a análise tátil prévia, para decidir qual será o melhor procedimento - explica Rodrigo Krug, que também enxerga na educação uma aplicação com potencial inovador.
Uma das máquinas da Cliever foi vendida para a faculdade de design da Unisinos. De acordo com o professor André Canal Marques, essa é uma opção que torna a criação de protótipos mais acessível, e é usada pelos cursos de design, arquitetura e engenharias. Marques também vê que o potencial vai além dos usos profissionais ou acadêmicos:
- Acredito que (haverá impacto para) todos os setores industriais, mas também o cidadão comum que, em um futuro não tão longe, poderá comprar e baixar um arquivo de um produto como um brinquedo, por exemplo, e realizá-lo em uma dessas máquinas com a personalização que quiser.