No quinto andar da Casa de Cultura Mario Quintana, em Porto Alegre, um grupo ensaia técnicas vocais. Separados por uma parede de vidro, estão os fundadores de um projeto que tenta criar uma voz para lidar com a angústia de boa parte da chamada geração Y: como aproveitar o potencial das ferramentas digitais para transformar o mundo, fazendo desse caminho um trajeto que alie realização pessoal com independência financeira? A Casa de Cultura Digital (CCD), por enquanto, é um espaço para explorar essa pergunta, muito mais do que uma resposta.
Recém-inaugurado, o lugar é aberto para quem quiser chegar. Nos próximos três meses, o desafio é descobrir como tornar a iniciativa sustentável financeiramente. A sala em que a CCD está hospedada hoje foi cedida para o exercício. Projetos pessoais paralelos pagam as contas dos cinco principais articuladores do movimento:
- Resolvi tirar da gaveta projetos que envolvem cultura, web, e essa vontade de não deixar a arte em um lugar fechado. Me identifiquei com a proposta da casa, que é aglomerar iniciativas independentes, criar projetos e entregar produtos na área de cultura - conta Helene Hoy, 25 anos, que dois meses atrás deixou a agência de publicidade em que trabalhava há dois anos.
A trilha é parecida com a de Luhcas Alves, 26 anos, que também vê no digital um recurso para viabilizar intervenções artísticas no mundo real. A sensação de inadequação com empregos convencionais e a paixão por projetos sociais, cultura e tecnologia unem o grupo, que conta ainda com Ane Saraiva, 28 anos, e Aline Bueno, 33, além de Vinícius Russo. O paulistano de 27 anos atua como um acelerador do movimento. Viu em Porto Alegre uma cena digital interessante e, inspirado na Casa da Cultura Digital de São Paulo, mobilizou mais gente que estivesse na mesma sintonia: com vontade colocar o conhecimento técnico e o talento à disposição de projetos culturais relevantes.
- Não temos dinheiro, nosso investimento é tempo. Se a gente precisa dinheiro para alguma ação, vai para um site de crowdfunding, arrecada, vai lá e faz - explica Vinícius.
Como define, a casa é menos um espaço e mais uma rede, já que o importante são as pessoas que fazem parte dela. Além de contar com o financiamento colaborativo de sites como Catarse e Vakinha, o grupo explica que pode viabilizar projetos em parceria com empresas, inscrição em editais ou recorrendo a leis de incentivo à cultura.
- Apesar de se chamar Casa de Cultura Digital, não criamos apenas sites ou aplicativos. Há muitos projetos que não acontecem no digital, mas toda a articulação e organização, tudo isso passa pelo digital - esclarece Aline.