Passados 40 anos do início da utilização do plantio direto no Brasil, em apenas 40% das áreas as orientações de diversificação de culturas, com pelo menos dois cultivos por ano, são seguidas à risca. Dados da Embrapa Trigo mostram que quem adere parcialmente à técnica está deixando de ganhar.
Pioneiro na adoção do plantio direto, ainda na década de 1970, o Rio Grande do Sul tinha em 1992, 4% da área de lavouras no sistema. Em 2012, a estimativa, conforme o engenheiro agrônomo Dirceu Gassen, gestor da área técnica da Cooperativa dos Agricultores de Plantio Direto (Cooplantio) e membro do Conselho Científico para Agricultura Sustentável, é de que 90% da área de lavouras já tenha implantado o sistema, em especial nas lavouras de soja, milho e trigo. O benefício aparece na redução dos índices de erosão do solo e de custos no preparo do solo.
- A erosão foi reduzida em 96%, e o consumo de combustível, em 55%. Onde eram necessários três tratores para tracionar arados e grades, é preciso um só - salienta Gassen.
Apesar dos ganhos, estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) mostram que dos 25,5 milhões de hectares com plantio direto no Brasil, menos de 10,4 milhões de hectares seguem a recomendação de diversificação de culturas. Fazer "pela metade" compromete a técnica.
José Eloir Denardin, pesquisador da Embrapa Trigo e doutor em ciências dos solos, explica a dedução, fundamentada pelos dados estatísticos que, dos 37,6 milhões de hectares cultivados na safra de verão, com as culturas de soja e milho, apenas 2,7 milhões de hectares são cultivados no ciclo de inverno e 7,7 milhões de hectares, com milho safrinha.
A situação se repete no Estado. Conforme Denardin, na safra de verão são cultivados cerca de 5 milhões de hectares com soja e milho. No inverno, são 1,25 milhão de hectares com cereais para produção de grãos ou pastagens. Assim, 3,75 milhões de hectares - 75% da área cultivada -, ficam parados, cobertos por plantas que nascem espontaneamente. Essas plantas, além de não produzir palha e raízes em quantidade suficiente para a demanda do solo, são usadas como pastagem.
- A integração pecuária-agricultura é ótima alternativa, mas com a escassez de mão de obra, o pecuarista não quer manejar o gado em piquetes e deixa o gado solto, pisoteando tudo. Quando vai plantar no verão não tem mais solo, tem tijolo - afirma Denardin.