Reconhecidos mundialmente, os vinhos e espumantes produzidos no Rio Grande do Sul ganham cada vez mais admiradores à medida que o próprio Estado descobre novos terroirs, como na Campanha, na Fronteira Oeste e nos Campos de Cima da Serra. Cada pedaço do mapa que se revela pródigo em boas uvas pode ter essa qualidade reconhecida oficialmente – uma bandeira que o Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul (Consevitis-RS) faz questão de levantar.
Por meio de parcerias com a Embrapa Uva e Vinho, além de universidades, institutos de educação e diversas entidades, o Consevitis-RS ajuda as associações de produtores a conquistarem a indicação geográfica. Para difundir essa ideia, o presidente do Consevitis-RS Luciano Rebellatto foi um dos painelistas do evento “Jornada de Sabores: Carnes e Vinhos Gaúchos”, que ocorreu na Casa RBS do Parque de Exposições Assis Brasil, no dia 26 de agosto, marcando o início da programação da 46ª Expointer.
– A denominação de origem é importante para que o consumidor possa se identificar. De acordo com a região, ele sabe as características que vai encontrar – entende Rebellatto.
O Consevitis-RS tem como finalidade principal o apoio ao desenvolvimento de toda a cadeia produtiva, da roça à mesa do consumidor, passando pela indústria, por cooperativas, pela comercialização e demais frentes. Atualmente, é responsável pela gestão do Fundo de Desenvolvimento da Vitivinicultura, o Fundovitis, que faz parte do orçamento da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação.
Em entrevista, Rebellatto fala sobre a importância do reconhecimento de cada região, com suas características e peculiaridades. Além disso, observa a relevância da vitivinicultura para o desenvolvimento econômico e social. Confira:
Quais os diferenciais dos vinhos e dos espumantes gaúchos?
Primeiro, devemos sempre ressaltar que eles estão entre os melhores do mundo. Temos premiações dos nossos espumantes em concursos na França, a casa do champanhe, mostrando essa qualidade – inclusive com medalhas de ouro. Esse desenvolvimento não passa pela identificação de origem, mas sim por pesquisas, por investimentos, pelo apreço e pelo cuidado com a qualidade.
Entre as expertises da região de Garibaldi e Bento Gonçalves, por exemplo, está a produção de espumantes. Temos um clima um pouco mais úmido, propício a esse tipo de uvas, que não precisam chegar à maturação extrema. Elas podem ser colhidas um pouco antes do ponto de maturação, que é excelente para vinhos, com acidez um pouco mais alta, dando refrescância ao espumante.
A indicação geográfica aparece para dar uma chancela a essa qualidade, ajudando na identificação de toda uma região?
Talvez até não seja exatamente a qualidade, mas o diferencial. O que identifica um bom vinho talvez não seja identificado pela cor, pela quantidade de álcool ou pela variedade da uva, mas pela região. A pessoa lembra por que aquelas características a marcaram, é uma experiência individual, ela cria uma relação.
Quando determinada região tem uma característica que agrada ao consumidor, por meio da busca pela regionalização ou pela identificação de origem, ele vai procurar aquela lembrança. O mesmo ocorre com produtos como carnes e azeites, também em franco desenvolvimento em nosso Estado.
A gente precisa motivar e incentivar o consumo não só no bairro, mas no Rio Grande do Sul e no Brasil. O Fundovitis precisa ser destinado para utilização na cadeia da uva e do vinho, mas a parceria que expusemos no evento trata de harmonização entre carnes e vinhos. Essa integração é muito importante para alavancar a economia gaúcha.
De que forma o Estado vem desenvolvendo sua produção?
O setor vitivinícola, na questão turística, está em alta. Nunca tivemos tanta busca por identificação de origem. São várias questões que estão sendo trabalhadas. Existe uma busca muito grande pelo turismo enológico. A nossa serra é privilegiada, tem um clima propício, um povo acolhedor, a cultura que envolve o vinho é a italiana, com culinária diferenciada. Estamos em um período interessante e promissor.
Existem ajustes que devem ser feitos nas questões tributárias, que nos preocupam muito. Trabalhamos para sensibilizar os governantes, mostrando que o vinho não é somente uma bebida destilada, ele passa por um processo artesanal que merece tratamento diferenciado. Além disso, tem todo um aspecto social, com mais de 20 mil famílias que trabalham colhendo a uva manualmente, a fim de chegar a um produto final de qualidade, pois é o elo principal de toda uma cadeia.
O que aparece como tendência na cadeia vitivinícola?
O Consevitis-RS está bastante focado em vinhos de mesa, também. Os vinhos finos são elaborados a partir de uvas vitiviníferas, enquanto estes são elaborados a partir de uvas como Isabel, Bordô, ditas comuns – e agora as híbridas, que são as variedades desenvolvidas pela Embrapa.
Há alguns dias tivemos uma premiação dos melhores vinhos de mesa do Brasil e estamos descobrindo excelentes rótulos, tão bons ou agradáveis quanto os vinhos de uvas vitiviníferas. Os vinhos elaborados a partir de uvas de mesa estão caindo no gosto do consumidor.
De que forma os produtores podem solicitar o reconhecimento das regiões como denominação de origem?
O Consevitis-RS não tem expertise por si próprio, por isso as parcerias com Embrapa, institutos federais e universidades. No caso das denominações, a Embrapa faz o trabalho de desenvolvimento e de rotulação de cada região. No momento, está em desenvolvimento o estudo da Indicação de Procedência Campos de Cima da Serra. Estamos focados em qualidade desde o produtor. A gente acompanha, da roça até o final, as características que vão para a mesa do consumidor.