Os efeitos da estiagem, que devastaram culturas em todo o Rio Grande do Sul, ainda são incertos para o mel gaúcho. Embora a falta de chuva seja condição propícia para a produção, a persistência de dias secos e temperaturas muito altas saiu da curva e pesou sobre a cultura, impactando em menor produtividade para os apicultores.
Com a colheita de outono em andamento, uma projeção mais acertada sobre o quanto deve ser produzido nos apiários do Estado ainda é considerada precipitada. A expectativa, neste momento, é de que a safra, pelo menos, se iguale à anterior. O Rio Grande do Sul é um dos principais produtores de mel do país.
A certeza entre os produtores e entidades que representam o setor, no entanto, é em relação à discrepância da cultura entre as diversas regiões onde há criação de abelhas no Estado. Enquanto alguns apicultores estão tendo colheitas na média ou até acima dela, outros não estão tirando quase nada dos tambores.
A resposta vem do clima. No geral, a estiagem costuma ser benéfica para o mel porque, com a falta de chuva, as abelhas conseguem deixar as colmeias e polinizar. Mas quando a seca é muito forte, as plantas não conseguem produzir as flores que, por sua vez, não conseguem produzir o néctar necessário e os insetos ficam sem alimentos.
— Como as chuvas estão irregulares no Estado, temos situações em que estamos com uma excelente produção, e outras onde os produtores estão tendo de alimentar as abelhas para não morrerem de fome. Dentro de um mesmo município, encontramos situações totalmente opostas. É um sinal dos tempos — explica João Alfredo Sampaio, assistente técnico da Emater na área de apicultura.
Presidente da Federação Apícola do Rio Grande do Sul (Fargs), o apicultor Ademir Haettinger relata que a produção do mel tem sido muito variável em todo o Estado. Por enquanto, a maioria dos produtores está colhendo entre 10 e 30 quilos por colmeia.
O dirigente aguarda dados consolidados das associações regionais para compilar uma estimativa real sobre a produção nesta safra. Na sua propriedade em Bossoroca, na Região das Missões, ele projeta colher metade da última primavera.
— Está muito diferente por causa dos microclimas. Ano passado, fechei 26 quilos por colmeia no tambor. Esse ano, fechamos 13,5 quilos por caixa. Mas tem gente com quem falei que tirou 20 quilos, outros 25 quilos. É uma variação muito grande — diz Haettinger.
Na avaliação do presidente, o que vai compensar nesse ano é o preço, porque não haverá tanta mercadoria disponível para compra. No mercado interno, a venda ao consumidor oscila entre R$ 18 e R$ 25 o quilo. Outra parte expressiva da produção é exportada, sujeita à variação do dólar.
Abenor Furtado, presidente da Associação Gaúcha de Apicultores (AGA) e produtor de abelhas há 30 anos em três regiões do Estado, endossa o comportamento heterogêneo da produção nesta temporada. Ele cria abelhas em Lavras do Sul, Caçapava do Sul e Butiá.
Na primavera do ano passado, conta que chegou a colher 40 quilos por colmeia. Em contrapartida, neste outono, a produção não chegou a 1 quilo até agora. A esperança do produtor para salvar a safra está na previsão de chuva para as próximas semanas.
— Não adianta ter uma colmeia forte, uma rainha de boa genética, mas não ter flor nem néctar. É um conjunto — alerta Furtado.
O dirigente acredita que a produção pode cair até 35% nesse ano no RS, prejudicada pela influência do clima e outros fatores, como desmatamento. Rodrigo Farias, gerente administrativo da AGA, acredita que não chegam a ser perdas significativas, como em outras ocasiões provocadas por mortandade e influência de agrotóxicos, mas de produtividade abaixo do esperado.
Segundo Furtado, a queda na produção gaúcha de mel vem ocorrendo ano a ano. Atualmente, o Estado tem 37,2 mil apicultores, a maior parte agricultores familiares.
Considerado por anos o maior produtor de mel do país, o quadro do Rio Grande do Sul parece estar mudando, perdendo espaço para outros Estados, como o Paraná. Em 2020, segundo o IBGE, a produção era de 7.466 toneladas aqui — dado mais recente da Pesquisa de Produção de Origem Animal, com participação de 14,5% na produção brasileira e logo atrás dos paranaenses, com 15,2%.