Apesar dos avanços na comunicação, nossa ignorância a respeito das coisas básicas da vida ainda impressiona. Apesar dos avanços na comunicação, nossa ignorância a respeito das coisas básicas da vida ainda impressiona. Fenômenos tão fundamentais como a fotossíntese (que absorve gás carbônico e devolve oxigênio para a atmosfera), não fazem parte nosso do cotidiano. Embora se intua que a atual vida no planeta não existiria sem ela, essa "impressão" não se concretiza em ações para preservar adequadamente os responsáveis pela fotossíntese: as plantas e as algas. Em uma equação simples, quando a fotossíntese não consegue capturar tanto carbono quanto o que estamos emitindo, amplia a concentração de CO2 atmosférico, aumentando a retenção de calor, responsável pela atual mudança climática. Outros gases também contribuem para o efeito estufa (metano, óxido nitroso, hidro e perfluorcarbonetos), mas o mais importante é o CO2 e esse pode ser controlado via fotossíntese. Mas, para o cidadão comum isso não é tão óbvio quanto deveria ser.
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Por outro lado, nos convencemos da necessidade de ampliar a produtividade dos sistemas agrícolas, pois com isso também aumenta o sequestro de carbono, o que é verdade. Mas esquecemos de calcular (ou não queremos) quanto equivalente de carbono (C) foi emitido para alcançar tal produtividade (na produção dos equipamentos, fertilizantes, defensivos, das atividades de plantio, colheita, transporte, beneficiamento etc.), o que geralmente torna o balanço de C negativo. Certamente necessitamos produzir mais alimentos, mas procurando formas de fazê-lo, onde o sequestro e as emissões de C sejam no mínimo iguais, se não na própria lavoura pelo menos ao nível da paisagem. Teremos que cuidar das emissões fora do âmbito agrícola, pois a agricultura, desflorestamento e outras formas de uso da terra são responsáveis por apenas um terço das emissões de equivalente carbono. O resto está com a indústria, o transporte e o modo de viver urbano, incluindo nosso cuidado (ou falta dele) com o lixo que geramos.
Mas não basta pensar apenas nas plantas. Também é necessário que faça parte do cotidiano o conhecimento de quanto estamos prejudicando o outro grande sistema fotossintético que são as algas. Boa parte da poluição gerada na indústria, incluindo aí a mineração a céu aberto, uso indiscriminado de fertilizantes e biocidas, erosão dos solos, os lixões, etc., acabam chegando às águas, prejudicando a fotossíntese via efeito sobre as algas. É por isso que precisamos pensar globalmente, e com um mínimo conhecimento dos fenômenos básicos da vida no planeta. Ou dito de outro modo, questões como: o que é fotossíntese? O que são gases de efeito estufa? De que modo a mineração a céu aberto nos prejudica? Como assim algas? Nem teriam que ser discutidas.
Carlos Nabinger é mestre em Fitotecnia e doutor em Zootecnia, professor da Faculdade de Agronomia da UFRGS
nabinger@ufrgs.br