A desejada integração entre indústria e universidade no desenvolvimento de estudos e produtos tem na agricultura gaúcha um bom exemplo. No Estado, uma pesquisa para estimular o plantio de aveia para consumo humano une produtores do cereal, a faculdade de Agronomia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a divisão de agronegócios da PepsiCo.
Tradicional em países mediterrâneos e originalmente plantada em locais mais secos, a aveia precisou de um longo trabalho de desenvolvimento de cultivares no Estado. Mais precisamento, 40 anos.
Leia as últimas notícias de Zero Hora
Leia todas as notícias de Campo e Lavoura
- Temos, desde 1974, um trabalho de desenvolvimento contínuo do grão. Desde 1976, com apoio da Quaker (adquirida pela PepsiCo em 2000), buscamos criar cultivares adaptadas às condições do clima temperado, que tem muitas variações de umidade, calor, chuva. Obtivemos muitos avanços. No Brasil, 100% das sementes oficiais de aveia têm origem no laboratório - diz o coordenador do trabalho, Luiz Carlos Federizzi.
O professor calcula que novas cultivares URS (nome que identifica a produção da universidade) são lançadas a cada quatro anos, em média. Para aproximar a aveia dos agricultores foi necessário colocar no mercado sementes de ciclo mais curto para não competir com a soja e o milho:
- Com a pesquisa, conseguimos ciclos menores, a tempo de liberar a terra para a soja, e uma planta mais resistente ao clima do Brasil.
Essa necessidade de um período mais curto, e de um grão mais resistente ao clima inconstante, é uma típica demanda do campo que chegou à universidade graças à parceria com a indústria.
Hoje, as novas necessidade de produtos chegam aos pesquisadores da UFRGS por meio de técnicos da PepsiCo. No Sul, acompanham um grupo de produtores em cidades como Cruz Alta e Passo Fundo.
Além de comprar o cereal desses parceiros, com contratos de garantia e preço fixado antes do plantio, a empresa de bebidas e alimentos é o canal de comunicação entre os agricultores e a universidade, explica o diretor da PepsiCo Agro, Jonas Abdallah:
- Nossos agrônomos visitam esses produtores do Sul regularmente, coletando dados e amostras da safra. Depois, levam esse conteúdo aos pesquisadores da UFRGS.
O programa
- Dentro do Programa Agro Aveia da PepsiCo, a lavoura de 10 produtores é analisada a partir das especificações definidas pela empresa. Para isso, parte da aveia é colhida na presença dos técnicos da companhia e uma amostra retirada para análise de qualidade daquela safra.
- O processo de análise segue ainda a legislação de micotoxinas, que avalia se a aveia está no limite tolerado de presença destas substâncias químicas. Entre as especificidades exigidas estão nível de umidade, pH, impurezas, que a aveia seja fina, entre outras características.
- Para estimular o plantio por parte dos produtores, a PepsiCo trabalha com contratos anuais que, por meio da estimativa do volume de produção, garantem a compra da safra e o preço. Além disso, fornece assistência técnica, transferência de tecnologia, treinamentos e acompanhamento dos processos para que os fornecedores atinjam o padrão de qualidade de seus produtos.
A pesquisa
- O trabalho mais importante para a expansão da cultura no Brasil foi conseguir adaptar a planta (que tem origem em locais secos e frios) ao inconstante clima tropical. Isso ocorreu em meados da década de 1980, quando se introduziu o gene de insensibilidade ao fotoperíodo, dando origem a uma cultivar mais resistente e adaptada ao clima do país.
- A adaptação a condições climáticas e a pragas é o foco. Sempre visando produtividade e qualidade do grão.
- Coordenador do trabalho, Luiz Carlos Federizzi diz, ainda, que devido ao investimento na pesquisa com aveia, foram desenvolvidos mais de 50 trabalhos sobre o tema em mestrados e doutorados na universidade, fomentando, além das lavouras, os estudos acadêmicos.
- Na América Latina, a Faculdade de Agronomia da UFRGS é a única a receber apoio da PepsiCo para desenvolvimento de cultivares de aveia. As sementes, agora, serão testadas na Índia, onde, neste ano, 30 mil hectares serão plantados com aveia gaúcha.
Fonte: Luiz Carlos Federizzi e Jonas Abdallah