Em 1982, no primeiro Freio de Ouro, os demais ginetes se surpreenderam com a adequação da equitação militar à técnica gaúcha, que fez Vilson Souza ganhar a competição. Passados mais de 30 anos, o que não falta é investimento em técnica.
- O ginete se profissionalizou e atualmente é comparado a um atleta - resume Alexandre Pons Suñe, comentarista da ABCCC.
Souza, hoje com 79 anos, aposentado das pistas e com carreira marcada por cinco Freios de Ouro, lembra que, na primeira disputa, a maioria dos montadores trabalhava nas cabanhas, usando só técnica tradicional. Ele saiu na frente porque tinha passado um ano no Exército, em Uruguaiana:
- Aprendi como domar, a parte do adestramento e da equitação. Acho que me destaquei por causa da orientação do quartel que tinha. Na época, ninguém se preocupava com isso.
Em 1993, há outro divisor de águas: Marcelo Bertagnoli passa uma temporada em São Paulo e volta adaptando técnicas americanas ao sistema tradicional. Vários concorrentes o seguem.
- Daí para frente, muda o grau competitivo e se instaura a profissão de ginete. Hoje, temos cursos, mescla de técnicas tradicionais com americana, é muito mais difícil entrar na final - conta Suñe.
A exigência da técnica dos ginetes é comparada à de um atleta, que precisa de preparo físico e muito treino para aprender a como lidar com o animal da melhor forma.
- Há preocupação até com o peso do ginete: quanto mais leve, melhor. Ele tem de cuidar da saúde, se exercitar, ser atleta mesmo - aponta Móglia, vencedor de um Freio.
Último ganhador da disputa para as fêmeas, Márcio Maciel era jogador de futebol em Uruguaiana antes de abandonar a carreira para se dedicar só aos cavalos crioulos. Ele conta que já fez vários cursos e conversa bastante com outros colegas:
- Como o nível de competição é alto e as informações são acessíveis, o nível dos ginetes está muito parelho. O diferencial acaba sendo o cavalo.
Se as técnicas evoluem, há outros itens que não mudam:
- Para ser um bom ginete, tem de ter muita, muita, muita vontade, paciência, disciplina e responsabilidade - ensina Vilson.
E o maior quesito, apontado por todos entrevistados: paixão.
ENTREVISTA: Vilson Souza, 79 anos, 1º vencedor em 1982
Já aposentado, Souza, nascido em Uruguaiana, ganhou cinco Freios de Ouro, quatro de prata e dois de bronze.
Zero Hora - Qual técnica o senhor usava?
Vilson Souza - A técnica é muito simples: todo ginete para ser bom ginete tem de ter muita, muita, muita vontade, paciência, disciplina e responsabilidade.
ZH - Qual era seu diferencial como ginete que o fez ganhar a competição?
Souza - Acho que me destaquei por causa da orientação do quartel que tinha, porque na época ninguém se preo- cupava com isso.
ZH - O que nunca vai mudar para um ginete, apesar de toda evolução na técnica?
Souza - Tem de gostar muito. Se não amar o cavalo, não funciona.
ENTREVISTA: Márcio Maciel, 32 anos, vencedor em 2012
Natural de Uruguaiana, Maciel ganhou a última disputa do Freio na categoria fêmeas, com a égua Sananduva do Salton.
Zero Hora- Qual técnica o senhor usa?
Maciel - É uma mescla. A paulista para ensinar a girar, esbarrar, depois a lida de campo para mangueira e paleteada. Costumo andar bastante no campo para depois andar na pista.
ZH - Qual é seu diferencial como ginete que o fez ganhar a competição?
Maciel - O nível dos ginetes está muito parelho. O diferencial acaba sendo o cavalo.
ZH - O que nunca vai mudar para um ginete, apesar de toda evolução na técnica?
Maciel - Nossas raízes no campo. E nossa paixão por cavalo.
VÍDEO: Entenda como funcionam as classificatórias para o Freio de Ouro