As indicações de Joaquim Levy para a Fazenda e Nelson Barbosa para o planejamento têm dois focos: recuperar credibilidade e interlocução com os setores financeiro e produtivo e tentar afastar o risco de exclusão do Brasil de um clube fechado e exigente, o dos bons pagadores.
A senha de ingresso nesse clube é formada por notas incluídas na categoria chamada de "grau de investimento". Quem dá essas notas são três agências internacionais - Standard & Poor's, Moody's e Fitch - que avaliam o risco de quem empresta dinheiro a países em troca de promessas de pagamento expressas em títulos de dívida e uma boa remuneração, na forma de juros polpudos. Funciona exatamente como nos bancos: quem é bom pagador consegue crédito mais barato.
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O Brasil foi admitido nesse clube no segundo mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, com grandes festejos, e corria sério risco de perda da carteirinha diante da seguinte equação: a arrecadação encolhia - por falta de crescimento e grande quantidade de benefícios fiscais -, a despesa aumentava e sobrava menos dinheiro para pagar os juros aos credores.
É por isso que o novo time vem aí com uma fórmula de administrar a economia mais tradicional. Para empreendedores e contribuintes, isso vai se traduzir, em um primeiro momento, em mais aperto: pelo menos um tributo deve voltar, a Cide, encarecendo gasolina e diesel, e outro deve subir, o IOF, que aparece na conta de quem transfere recursos pelos bancos, faz câmbio e usa cartão de crédito no Exterior.
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Também vai funcionar a tesoura em alguns benefícios, como menos parcelas a título de seguro-desemprego, revisão da forma do abono salarial anual a que tem direito quem ficou ao menos um mês com registro na carteira de trabalho e até de pensões, que são pagas a quem nunca contribuiu com a Previdência. Esse pacote já estava sendo embrulhado pelos auxiliares do atual ministro da Fazenda, Guido Mantega, mas deve ter conteúdo revisto e ampliado.
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O gaúcho Alexandre Tombini, que segue no comando do Banco Central, vai manter o papel que já desenhou na semana seguinte à eleição, quando chancelou uma surpreendente alta do juro básico, sinalizando que o crédito ficará mais caro. Críticos da política econômica do primeiro mandato de Dilma Rousseff estão animados. Dizem até que a escolha da equipe equivale a uma "vitória atenuada" da presidente na eleição. Mas que o outro lado do aperto é a volta da previsibilidade.