Em 2023, 25.458.500 mulheres declararam terem sofrido violência doméstica e familiar ao menos uma vez na vida. Isso equivale a 30% das brasileiras. Das que sofreram violência neste ano, 61% não procuraram uma delegacia, enquanto, de janeiro a outubro, 1.127 feminicídios foram registrados no país.
Os números são do novo Mapa Nacional da Violência de Gênero, projeto que é uma parceria do Senado Federal, do Instituto Avon e do Gênero e Número para disponibilizar dados atualizados e abertos sobre a violência de gênero.
O que faz com que tantas mulheres continuem se calando diante da violência doméstica? A psicóloga Najma Alencar aponta a dependência emocional nas relações como um forte fator de silenciamento.
— As mulheres também não foram ensinadas a identificar os sinais de um relacionamento abusivo. Muitas nem sabem que violência não é apenas física, mas pode ser também sexual, psicológica, moral ou patrimonial — ressalta.
Identificando a dependência emocional
A especialista costuma fazer 12 perguntas às suas pacientes para ajudá-las a identificar se há dependência emocional na relação. Quanto mais respostas "sim", maior é a dependência. Confira:
- Você sente necessidade de consultar o seu parceiro para tudo o que faz?
- Você é incapaz de aproveitar os momentos em que está sozinha?
- Sua felicidade depende exclusivamente do seu parceiro e não consegue suportar a ideia de um término?
- Você se afastou dos amigos e da família desde que começou essa relação?
- Você não se atreve a tomar a iniciativa em nada e não expressa sua opinião por medo de desagradá-lo?
- Qualquer atividade que você faz sem ele é chata e monótona?
- Você já se fez de vítima para chamar a atenção dele?
- Sua vida não tem sentido sem ele?
- Você vive com medo dele ir embora?
- Você acha que tem muita sorte de alguém tão incrível querer ser seu parceiro?
- Você é muito ciumenta?
- Você perdoaria uma traição para não terminar o relacionamento?
Superando a dependência emocional
Segundo Najma Alencar, superar a dependência emocional começa por entender os motivos que a antecipam. Pois, por trás de toda dependência, existe um medo que a sustenta, explica. Fazer terapia é imprescindível para esse processo de cura, e a psicóloga trata esses casos trabalhando autocrítica, autoestima e autonomia com as pacientes.
— Ao perceber que o outro ocupa um lugar muito grande dentro de você, o que você pode fazer para se preencher de si? — indaga a profissional. — Essa é uma pergunta importante e muito eficaz para iniciar (o processo). Você pode experimentar uma caminhada sozinha, ir a um café sozinha, ler um livro no silêncio, criar hábitos que fortaleçam sua espiritualidade e tantas outras formas de se descobrir.
Sinais de comportamentos abusivos
Para a identificação de uma relação abusiva, outras questões entram em jogo. De acordo com a psicóloga, a mulher deve perceber um padrão de desequilíbrio de poderes no relacionamento e táticas manipuladoras.
Quando um homem é abusivo, ele costuma impor restrições à mulher (como sair para se divertir, conversar com os amigos e visitar os familiares), mentir compulsivamente e punir a mulher quando ela o desagrada, de várias formas: com o tratamento de silêncio, humilhando, diminuindo suas conquistas, ameaçando e agredindo, seja verbal ou fisicamente.
Procure por ajuda
Ao menor sinal de abuso, a mulher deve procurar ajuda, alerta Najma Alencar. "Seja em uma Delegacia da Mulher ou com alguém de confiança", destaca. O telefone 180, por exemplo, é da Central de Atendimento à Mulher, um serviço criado para o combate à violência contra a mulher.
Além disso, nesse momento, o apoio do confidente, da família e dos amigos é essencial para que a mulher agredida pelo parceiro se sinta acolhida e tenha coragem para sair da relação.
— Ela precisa sentir que tem uma rede de apoio. Do contrário, as chances da violência doméstica aumentar são grandes — comenta a psicóloga.