A síndrome pré-menstrual, popularmente conhecida como tensão pré-menstrual ou TPM, é caracterizada por um conjunto de sensações físicas e emocionais capazes de afetar o bem-estar da mulher. Os sintomas ocorrem dias antes da menstruação e vão embora depois.
Conforme Ana Julia Carneiro Monteiro, especialista em ginecologia endócrina e membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), toda mulher que menstrua tem sintomas anteriores à fase final do ciclo reprodutivo. Como, por exemplo, inchaço do corpo, cansaço e irritabilidade. Em geral, essas manifestações não interferem na qualidade de vida. No entanto, quando passam a prejudicar o cotidiano, é identificada a TPM.
— A definição da TPM é a presença de sintomas físicos, emocionais e comportamentais que fazem a paciente perder qualidade de vida e que acontecem ciclicamente, sempre antes da menstruação, e aliviam completamente alguns dias após o início do sangramento — pontua.
Existem mais de 150 sintomas de TPM descritos na literatura, os quais podem variar de pessoa para pessoa e de ciclo para ciclo.
A causa primária da TPM ainda não é bem definida. A ginecologista Cristina Laguna Benetti Pinto, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), afirma que uma das explicações é que a TPM estaria associada às flutuações hormonais de estrógeno e progesterona, naturais do organismo feminino. A partir disso, algumas mulheres seriam mais sensíveis às oscilações dessas substâncias.
Ainda que bastante comum, a condição ainda é cercada por dúvidas. Zero Hora explica o que é mito e o que é verdade sobre o tema.
TPM é hereditária?
Alguns estudos sugerem que o histórico familiar contribui para a existência da síndrome, embora não seja determinante. Ou seja, se você sofre com a condição, há maior probabilidade de sua filha também ter TPM.
— Mulheres que têm TPM na família podem ter maior propensão a ter também, mas não porque um "gene tal" provoque, mas porque existe esse histórico familiar — reforça a ginecologista Ana Julia.
TPM é psicológica?
Não. Há quem questione se a TPM existe de fato, sugerindo que os sintomas seriam oriundos de questões emocionais. É importante ressaltar que a síndrome é uma condição real, motivadas por flutuações hormonais.
— Não é psicológica, não é frescura, não é bobagem. É uma causa real de sintomas, que podem ser emocionais. Há mulheres que vão ter oscilações de humor, que vão ficar irritadas, vão chorar. O que não podemos confundir: a TPM pode gerar sintomas psicológicos, mas não é psicológica — destaca Ana Julia.
TPM atinge todas as mulheres?
Não. A TPM acomete apenas mulheres em idade reprodutiva e que menstruam. Mas isso não significa que todas dentro desse grupo vão sofrer com a condição.
— A prevalência é variada, mas há estudos que mostram que entre 40% e 50% das mulheres que estão em período reprodutivo, desde que começam a menstruar até a menopausa, podem apresentar a síndrome pré-menstrual — informa a ginecologista Cristina Laguna.
TPM dá mais vontade de comer chocolate?
É verdade. A médica Ana Julia relata que todo o contexto de alteração hormonal influencia os neurotransmissores do cérebro, os quais fazem com que a mulher procure uma molécula chamada triptofano, auxiliar na produção de serotonina.
— É uma molécula que vai dar aquela sensação de bem-estar. Nós temos a tendência de procurar mais alimentos que nos dão essa sensação, por isso que se fala muito do chocolate.
Durante esse período do mês, o paladar tende a ficar mais afoito por comidas que tragam essa sensação de prazer. Há um maior desejo por alimentos gordurosos e açucarados.
TPM engorda?
A síndrome por si só não tem essa capacidade. Entre as principais sensações da TPM estão a distensão abdominal e a retenção de líquido, que podem dar a impressão de ganho de peso. O que pode fazer a mulher engordar é passar os dias de TPM ingerindo uma quantidade maior de calorias do que gasta diariamente.
Exercícios físicos e alimentação aliviam a TPM?
Sim. Práticas como exercícios físicos, alimentação saudável e atividades de relaxamento auxiliam na melhora do humor e na redução do estresse.
— Uma dieta mais equilibrada, com menos gordura, com menos cafeína, melhora os sintomas. A atividade física também melhora os que aparecem nessa segunda metade do ciclo menstrual — destaca a ginecologista Cristina.
Existe um tipo de TPM mais grave?
Sim. Quando a mulher é afetada por manifestações mais intensas, que prejudicam de forma significativa a qualidade de vida, pode ser diagnosticada com uma forma mais grave da TPM.
— Dentro da síndrome, existe um conjunto de mulheres, que representam entre 4% e 5%, que têm um quadro mais grave, chamado de síndrome disfórica pré-menstrual — declara Cristina Laguna.
A condição também é conhecida como transtorno disfórico pré-menstrual ou TDPM. Cristina aponta que, nesses casos, os sintomas emocionais são mais prevalentes do que os físicos. A mulher pode ter mudanças bruscas de humor e até ideação suicida.
A TDPM pode ser confundida com uma crise de ansiedade ou com depressão. Entretanto, tem uma característica cíclica, surgindo apenas nos dias que antecedem a menstruação. Por isso, é importante ter um diagnóstico correto e acompanhamento profissional.
TPM tem cura?
Não tem cura, mas tem tratamento. Mudanças no estilo de vida e hábitos saudáveis são essenciais. No âmbito clínico, as principais abordagens para o gerenciamento do distúrbio são medicamentos para alívio dos sintomas, uso de antidepressivos e pílulas anticoncepcionais combinadas.
— A pílula anticoncepcional combinada bloqueia a ovulação e, consequentemente, as oscilações hormonais naturais do ciclo menstrual. A mulher que usa esse tipo de anticoncepcional não vai ter TPM — explica Ana Julia sobre uma das possibilidades de tratamento.
A escolha do método pode variar de paciente para paciente, com base nos desejos individuais e no diagnóstico profissional. Outro ponto importante é que o autoconhecimento pode auxiliar a lidar com os desconfortos sentidos nessa época do mês.
— Quando as mulheres são bem orientadas sobre o que é a síndrome pré-menstrual, muitas aprendem a conviver com os sintomas, assumem um estilo de vida mais saudável, com alimentação mais equilibrada e com atividade física. Muitas vezes, elas não querem e não precisam utilizar medicamentos — diz Cristina.
A médica Ana Julia reforça a importância de não relativizar os sintomas da TPM.
— Vivemos em uma sociedade que minimiza as dores das mulheres. É importante darmos voz para essas mulheres que sofrem com o período pré-mestrual para que elas procurem ajuda, porque existe tratamento — adiciona Ana Julia.
Ambas as especialistas enfatizam: independente dos sintomas pré-menstruais, sejam eles físicos ou emocionais, a partir do momento em que algum deles passa a interferir no bem-estar, é hora de procurar ajuda especializada.
*Produção: Carolina Dill