A temporada de verão e de calor está se aproximando e, junto com ela, aumentam as idas à praia e à piscina. E esse contexto tende a facilitar a ocorrência de infecções vaginais, fazendo do verão uma época para prestar ainda mais atenção aos cuidados com a saúde íntima, conforme aponta Camila Bessow, ginecologista e obstetra formada pela UFRGS e Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
— No consultório sempre notamos que o verão é um momento em que a frequência de infecções vaginais costuma ser maior, principalmente de candidíase, mas também vaginose e outras — comenta.
A vagina abriga microrganismos, bactérias e fungos, compondo a flora vaginal, que ajuda a proteger o aparelho genital feminino, explica a profissional. Quando há desequilíbrio desses organismos, aumenta o risco de desenvolver infecções.
Essa mudança pode ocorrer, por exemplo, quando a região passa muitas horas em contato com água (da piscina, do mar), permanece por um longo tempo com o mesmo biquíni molhado ou então suando por várias horas usando a mesma calcinha.
— Tudo isso acaba ajudando a proliferação dos fungos que já estão ali. É um gatilho do ambiente. A vagina é um ambiente abafado, escurinho e quentinho que pode ser muito propício à proliferação excessiva de microrganismos. Um sinal de que há infecção é quando o padrão de secreção vaginal muda, com surgimento de cheiro diferente, coceira etc. São sintomas que apontam que não está tudo bem naquela região — aponta.
Deixe respirar
Quanto mais as roupas abafarem a região íntima, maior será o risco de proliferação de fungos. Por isso, é importante evitar calcinhas apertadas e em tecidos sintéticos; a melhor opção são as de algodão, lembra a ginecologista.
O mesmo vale para as calças: se forem muito justas ou com fibras sintéticas, como no caso de modelos de ginástica, alguns jeans e couro, é melhor evitar. A temporada de verão é a ideal para apostar em saias, vestidos e peças em materiais leves e naturais, como linho e algodão.
— Dormir sem calcinha também é um hábito legal de incorporar, porque assim há menos abafamento da região íntima, o que acaba favorecendo uma flora vaginal saudável — diz Camila.
Nada de biquíni molhado
A roupa molhada é uma situação que faz aumentar a proliferação de microorganismos. Por isso, o ideal é trocar com frequência a parte de baixo. A dica é levar um biquini ou maiô extra e trocar depois de alguns mergulhos.
Higienize corretamente
A higienização da vulva (parte externa do aparelho genital feminino) deve ser feita preferencialmente sob água corrente, sem uso de chuveirinho ou ducha, que podem aumentar o risco de infecção no canal vaginal. Ele é autolimpante.
— A vagina é um órgão que deve ser deixado em paz. Tudo o que precisar ir para fora, ela mesma vai se encarregar de expulsar. A flora que existe ali, quando saudável, serve para proteger as estruturas do nosso corpo e não deve ser retirada com lavagens em excesso. Se tu colocares um jato de água ali dentro, acabará retirando bactérias e fungos do bem e aumentará a chance de algum microrganismo externo entrar e se proliferar na região. — explica a ginecologista.
A recomendação de Camila é lavar a vulva uma vez ao dia com água corrente e sabonete neutro ou de glicerina. Pensando, por exemplo, em um dia quente em que a mulher acaba tomando dois ou três banhos no dia, em apenas um deles deverá lavar a região — nas outras, é só deixar a água correr.
Durante a higienização, é importante não friccionar demais as dobras do clitóris e os grandes lábios, evitando arranhaduras e irritações.
Limpeza ordenada
Assim como na hora de ir ao banheiro é recomendado que a mulher se limpe “da frente para trás”, na hora de tomar banho, a indicação também é higienizar primeiro a área da vulva e só depois a região anal. Isso porque as duas regiões têm suas próprias bactérias e fungos, floras diferentes, que não devem se misturar para que sejam evitadas infecções vaginais e urinárias. Também é importante enxaguar bem o sabonete com água após o uso.
Sabonete neutro
A ginecologista não recomenda o uso de sabonetes íntimos — nem na região da vulva nem para lavar a calcinha.
— Os sabonetes íntimos têm PH neutro e podem interferir no da vagina, que é ácido. Essas alterações podem favorecer infecções — afirma Camila.
Quem tem algum tipo de dermatite ou facilidade para irritações na vulva deve buscar orientação médica para encontrar um sabonete que não agrida sua pele.
Roupas íntimas
Não é proibido lavar a calcinha ou o biquíni no banho, mas é preciso observar alguns cuidados. Os sabonetes mais indicados são os neutros ou de glicerina. Também é necessário colocar a peça para secar em ambientes com boa ventilação natural, preferencialmente ao ar livre.
Protetores diários
Menos é mais quando o assunto é vagina e vulva. Sobre o hábito de usar protetores diários, Camila diz que não é necessário e nem indicado. Isso porque a própria calcinha já faz a função de barreira entre a vagina e o meio externo, de forma que, quando são adicionadas mais camadas, a região fica ainda mais abafada.
Atenção à alimentação
Essa não é uma exclusividade do verão, mas sim uma dica para o ano todo: alimentação saudável também pode ter reflexo na região íntima. De acordo com a ginecologista, mulheres diabéticas ou que fazem um consumo excessivo de doces e carboidratos podem ter maior risco de desenvolver candidíase.
— O fungo se alimenta de glicose, é o seu combustível. Se temos um excesso circulando, haverá uma alteração na flora intestinal e vaginal com a proliferação demasiada de fungos, o que causa candidíase. Muitas vezes, quando deparamos com mulheres que têm candidíase de repetição, é necessário não só tratar, mas também melhorar a alimentação — explica Camila.