Após um longo período longe do público (foram mais de dois anos!), o evento queridinho da revista está de volta. Abrangendo assuntos dos mais variados, que vão de moda até maternidade, o Donna Talks traz especialistas e personalidades para trocar ideias com o público e levantar debates pertinentes ao universo feminino.
Em 2019, nomes como o do estilista Alexandre Herchcovitch, da influenciadora Claudia Bartelle e da escritora e colunista de Donna Martha Medeiros figuraram entre os convidados.
Quem estreia esta retomada é a pesquisadora de Economia Criativa Paula Cristina Visoná. No dia 18 de agosto, às 19h30min, a conversa sobre indústria criativa será aberta ao público na nossa casa, o Donna Beauty Pompéia, que fica no Espaço Unisinos (Av. Dr. Nilo Peçanha, 1.500), com realização de Lojas Pompéia, Beauty Line, Espaço Unisinos e Unisinos. Conversamos com Paula para antecipar o tema do bate-papo. Confira:
As pessoas ainda associam o termo “indústria criativa” ao campo das artes. Como explicar de forma simples que ela também é importante na esfera econômica?
A indústria criativa é responsável pela geração não só de recursos financeiros, mas de postos de trabalho. No Brasil, costumamos entender como arte e não levamos em consideração que tudo o que consumimos de série e novela é indústria criativa. Houve uma discussão se é ou não, mas os modelos contemporâneos consideram gastronomia como indústria criativa. E, se a gente for olhar o que manteve a sanidade mental das pessoas na pandemia, foi a indústria criativa.
Ela é muito ampla e também pode ser utilizada como mecanismo de reposicionamento geopolítico. Por exemplo, a Coreia do Sul vem fazendo isso há décadas e intensificou nos últimos anos com as bandas de k-pop e o cinema. O ápice foi o Oscar de 2020 para o filme Parasita. Tudo isso demonstra a importância do investimento nesse tipo de indústria, baseada em ideias, difusão de conhecimento e na transformação de tudo isso em produtos, serviços e experiências, com um crescimento exponencial.
Além disso, se garante muito da rentabilidade informal em contextos vulneráveis. Como quando uma mãe perde seu emprego, e, além de fazer faxina, começa a buscar alternativas na costura ou no empreendimento em gastronomia. O artesanato também faz parte da indústria criativa.
Se garante muito da rentabilidade informal em contextos vulneráveis, como quando uma mãe perde seu emprego, e, além de fazer faxina, começa a buscar alternativas na costura ou na gastronomia.
PAULA CRISTINA VISONÁ
Pesquisadora
Como você vê Rio Grande do Sul nesse cenário?
No Estado, as áreas de indústria criativa mais importantes são a moda; a de jogos, que tem crescido muito; e as microcervejarias artesanais. Nesse sentido, o turismo criativo é um braço do turismo tradicional que vem buscando criar roteiros que explorem esses contextos, com visitações a esses lugares, por exemplo, com a intenção de mostrar os produtores.
Áreas como o design são mais abertas para esta questão?
Não acho. O design se relaciona com várias áreas, como publicidade, fotografia, cinema. Essas áreas, ao mesmo tempo em que ativam outras, também acabam se complementando e gerando maior visibilidade para outros setores.
Quais os maiores exemplos bem-sucedidos para quem quer entender e entrar na indústria criativa?
Tudo vai depender do foco. O caso da Coreia do Sul é muito bacana pelo audiovisual e pela música. O Canadá também investe muito em produção audiovisual, jogos e animação. Quando a gente vai ao cinema, seja para ver um filme de animação ou que tenha efeitos especiais, nos créditos, além de ter uma equipe gigante, sempre vai ter alguma coisa relacionada ao Canadá, um estúdio ou uma cidade. E o Cirque du Soleil, por exemplo, um produto “by Canadá”, é total indústria criativa.
Outro caso legal é de Portugal, que passou por uma crise de 2013 a 2015. A partir de 2016, passou a se organizar pela economia criativa, com um olhar pelo local. Valorizando e ressignificando traços identitários, transformando em produtos, serviços, e explorando a dimensão do turismo criativo.
Na América Latina, temos a Argentina, que apesar de não estar bem atualmente, investiu pesadamente nos anos 2000. Em 2009, chegou a ganhar um reconhecimento da Unesco. Na Colômbia, tem sido feito um trabalho reconhecido em cidades como Medellín e Bogotá para construir um novo imaginário e se descontextualizar do tráfico e da violência. Por fim, o Chile, que tem uma democracia razoavelmente estável, também tem investido nisso.
* Produção: Luísa Tessuto