Hoje, depois de viver a maternidade na pele, quais conselhos você daria para aquela mulher inexperiente e cheia de idealizações? Neste Dia das Mães, a Revista Donna convidou cinco leitoras para fazer esse exercício: escrever uma carta pensando no início da sua caminhada, quando ainda carregavam seus bebês dentro da barriga. Naquela época, elas não faziam ideia do que viria pela frente – do susto da gravidez de gêmeas a um filho com autismo, da solidão do pós-parto ao medo de esquecer do lado mulher, profissional e de tantas outras facetas. A seguir, leia o relato sincero de Janice Oliveira. E prepare-se: já deixe o lenço à mão, porque a chance de você se identificar e se emocionar é gigante. Feliz Dia das Mães!
"Não perca tempo com a autocondenação. Você vai seguir errando (e muito) conforme eles crescem"
"Quando você pegar a Duda nos braços pela primeira vez lembre-se do conselho daquela amiga de faculdade: ‘Nasce uma mãe, nasce o sentimento de culpa. Não o alimente e ele morrerá’. Sua filha é linda, exatamente como você imaginou. Só que a maternidade traz aquela sensação de imperfeição. Nos primeiros dias em casa com a Duda, você vai ficar pensando em looping: será que ela está com fome? Será que está com dor? Calma, respire. Não existe manual. Você está dando o seu melhor, e muita coisa não depende só de você. Pela frente, ainda virá uma maternidade solo que não estava nos planos. Depois da separação, a carga da rotina ficará apenas com você e, por mais que tente, não dá para cumprir todos os papéis ao mesmo tempo. Filtre os conselhos das pessoas com ‘boa intenção’. No fundo, a maioria não quer machucar, mas acaba doendo. Quando perguntarem se você ‘não viu que as unhas do João estão grandes’, ou apontarem que “ele está muito magro”, e questionarem se ‘você está alimentando seu filho direito’ respire, abra o sorriso amarelo e deixe para lá.
Lembre-se do conselho daquela amiga de faculdade: ‘Nasce uma mãe, nasce o sentimento de culpa. Não o alimente e ele morrerá’.
Aliás, apesar da dúvida em ter um segundo filho, essa será sua melhor decisão. João fez a dupla se tornar um trio, uma parceria que só se fortalecerá. Não perca tempo com a autocondenação. Você vai seguir errando (e muito) conforme eles crescem. Haverá dias em que as crianças parecem te odiar. De tal jeito que vai dar vontade de deixar um deles chorando na calçada para se acalmar. Não esqueça que você também é um ser humano que se sente esgotado. E tudo bem, você é a melhor mãe possível. Outro ponto importante: não esqueça da Janice dentro desse turbilhão. Enquanto você ordenha leite materno num canto da sala dos professores da escola e reclama que não tem tempo para fazer as unhas, ouça atentamente aquela colega de trabalho mais velha que se aproxima. Mesmo sem tanta intimidade, mas do alto de sua experiência, ela vai chegar mais perto e bater na tecla de que você não pode esquecer de si.
Quando chegarem na adolescência, o frio na barriga vai tomar conta. Fique tranquila: vocês vão rir muito mais do que brigar e não abrirão mão de jantar juntos quase todos os dias. É bom olhar para trás para entender que somos mães imperfeitas, mas que felicidade e perfeição não precisam caminhar juntas".
Janice Oliveira, 50 anos, pedagoga, de Canoas, mãe da Maria Eduarda, 18 anos, e do João Augusto, 12 anos.