Com renda menor, mulheres negras têm que se dedicar mais aos cuidados da casa e de filhos e parentes do que as mulheres brancas, segundo pesquisa divulgada nesta quinta-feira (4) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O tempo gasto com afazeres domésticos indica a desigualdade nas condições de trabalho, já que, com menos tempo disponível, as pessoas têm menor chance de se dedicar ao trabalho remunerado ou à qualificação profissional.
Os dados do IBGE mostram que, em 2019, 94,1% das mulheres que se declararam pretas e 92,3% daquelas que se declararam pardas relataram realizar afazeres domésticos. A taxa vem crescendo desde o início da pesquisa, em 2016, quando era de 91,7% para pretas e 91,2% para pardas. Entre as mulheres brancas, a taxa foi de 91,5%.
Na comparação com os homens, a diferença é ainda maior. Entre os que se declaram brancos, a taxa de afazeres domésticos foi de 80,4%. Já 80,9% dos homens pretos e 76,5% dos pardos disseram realizar afazeres domésticos.
Na pesquisa divulgada nesta quinta, o IBGE detalha dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar), que estuda o desemprego, para identificar outras formas de trabalho realizadas pelo brasileiro, como os afazeres domésticos, cuidado de pessoas, produção para consumo próprio ou voluntariado.
Os dados mostram que há também diferença na dedicação aos cuidados de pessoas, tanto em domicílio, quanto fora do domicílio. Essa tarefa foi realizada por 39,6% das mulheres pretas e 39,3% das pardas. Entre as mulheres brancas, 33,5% disseram ter dedicado tempo ao cuidado de outras pessoas.
Também neste caso, as taxas são bem menores para os homens: 25,2% entre os brancos, 27,8% entre os pretos e 26,1% entre os pardos. Nos últimos anos, diante da crise financeira, os homens têm dedicado mais tempo a tarefas do lar, mas ainda assim, a maior parte do trabalho ainda fica com as mulheres.
Renda
Segundo a analista de Trabalho e Rendimento do IBGE, Alessandra Brito, a maior taxa de realização de tarefas domésticas entre pretas e pardas está ligada à menor renda, que impede o acesso a creches ou a contratação de babás para cuidar dos filhos.
De acordo com a última pesquisa sobre desigualdade de cor no mercado de trabalho divulgada pelo IBGE, em novembro de 2019, a renda média de trabalhadores brancos (R$ 2.796) foi 73,9% superior à da população preta ou parda (R$ 1.608) em 2018.
Naquele ano, os pretos e pardos representaram 64,2% da população sem emprego no país. E, entre os empregados, 47,3% deles tinha ocupação informal, que geralmente tem renda menor e menos segurança. entre os brancos, a taxa de informalidade era de 34,6%.
A diferença salarial ocorre também em relação às mulheres brancas, que já são discriminadas em relação aos homens. Em 2018, a renda média das mulheres pretas ou pardas equivalia a 58,6% a de uma mulher branca. Na comparação com os homens brancos, a disparidade é muito maior: a renda destes foi mais do que o dobro da recebida por elas.