Na maior parte da semana, Cristi, de 33 anos, trabalha no departamento de marketing de uma empresa de moda. Um emprego comum, cujo horário é das 9h às 17h. Mas, em uma tarde recente de sexta-feira, ela podia ser encontrada no Symphony Space, em Nova York, abrindo um espacate no corredor do teatro enquanto uma amiga puxava seus braços para trás, ajudando no alongamento.
Ela precisaria daquela flexibilidade na coluna dentro de algumas horas, quando assumisse o palco no Campeonato Americano de Pole Dance e começasse a rodopiar em volta de uma barra de ferro ao som de Cornflake Girl, de Tori Amos.
– É uma maneira excelente de desestressar, ficar mais criativa e todas essas coisas – comentou Cristi, que, para não misturar vida pessoal e profissional, preferiu usar apenas o primeiro nome.
Há cinco anos, ela passou a se interessar por esse tipo de dança. As outras competidoras do evento, que dura dois dias – 115 no total –, também tinham claramente sido contaminadas pelo vírus da pole dance.
Algumas, como Cristi, trabalham em tempo integral em outras áreas, praticando e dando aulas nas horas vagas; outras ganham a vida nesse nicho de mercado, que vem crescendo, como professoras ou donas de estúdios. Algumas têm experiência com balé ou ginástica artística; outras nunca tinham dançado antes da primeira aula.
O que me encanta na pole dance é você ser capaz de fazer qualquer coisa com ela. Um dia, pode usar para liberar seu lado sensual, em outro, o acrobático, ou, às vezes, você pode apenas querer dançar".
KEITH TAYLOR
dançarina
Mas, de um jeito ou de outro, todas foram atraídas para esse tipo curioso de dança que mistura arte, esporte, dança exótica e forma física. Tendo em grande parte perdido a fama de ser apenas coisa de clubes de strip-tease – embora, como disse uma competidora, "ainda seja um pouco provocante" –, a modalidade vem conquistando um grande grupo de seguidoras nos últimos 15 a 20 anos, pessoas em busca de um exercício divertido e atletas fazendo lobby para que o estilo receba status de esporte olímpico.
E, ainda que apenas poucas dançarinas saiam da competição com os cobiçados prêmios – que incluem uma viagem para o Miss Pole Dance na Austrália e os títulos de Miss Sexy e Miss Trixter –, a energia no teatro, enquanto as candidatas se aqueciam e testavam os equipamentos no palco, era mais de cooperação do que de puxar o tapete.
– Mesmo sendo competitivas, elas são muito bacanas – são prestativas – afirmou Kellye Janel, atriz, modelo e maquiadora que se apresentaria naquela noite na categoria de duplas, com o parceiro de dança Christopher Kyle.
Como a maioria das coreografias individuais, a deles envolvia a proeza de impulsionar e contorcer o corpo ao redor da barra, mas com a emoção extra do dançarino segurando a parceira pelos tornozelos de cabeça para baixo.
Kyle, de 27 anos, também competiria na categoria masculina; era um entre cinco. Embora atraia majoritariamente mulheres – que, em sua maioria, descrevem a experiência como empoderadora e viciante –, está crescendo a popularidade da dança entre os homens.
– Conheço homens heterossexuais que praticam pole dance agora e isso é incrível. Dá a sensação de um esporte extremamente corriqueiro – opinou Blaine Petrovia, de 27 anos, também competindo no grupo masculino.
Criar um ambiente acolhedor e convidativo sempre foi importante para Wendy Traskos, criadora da competição, que fundou a Federação de Pole Dance dos Estados Unidos em 2008. O Campeonato Americano de Pole Dance, organizado pela primeira vez em 2009 na cidade de Nova York, é o principal evento da federação.
Traskos, de 47 anos, era ginasta e dançarina de festas e casas noturnas. Ela voltou o foco para a pole dance depois de ter passado quatro anos competindo pelo Comitê Nacional de Culturismo, a maior organização amadora de fisiculturismo do país.
A experiência que teve naquele mundo não foi "superincrível", relatou, "simplesmente porque as pessoas eram realmente competitivas, e não amigáveis, por isso o dia da prova não era muito divertido. No universo fitness, ninguém ajudaria você a colocar o Bikini Bite ou algo do tipo", lembrou-se, fazendo referência a uma marca de glitter para o corpo.
– Todo mundo ficava sentado pela sala, rosnando para você enquanto comia aveia ou frango.
Quando concebeu a disputa – a primeira do tipo nos Estados Unidos –, ela queria possibilitar uma experiência mais positiva, em que os participantes pudessem aproveitar o resultado de muitas horas de trabalho duro enquanto o público se divertisse com um excelente espetáculo.
Desde que abriu o próprio estúdio, o New York Pole Dancing, em 2005, Traskos teve de lidar com a ideia equivocada de que dançar em uma barra significa tirar a roupa – no entanto, declarou que "se é isso que você faz para ganhar dinheiro, não julgo".
– A pole dance em um clube de strip-tease é completamente diferente de uma apresentação artística de pole – observou.
Ainda assim, enquanto algumas entidades – como a Liga Americana de Pole, pertencente à Federação Internacional de Pole Sports – assumem uma imagem mais esportiva, Traskos não quer suprimir o lado sensual dessa forma de arte.
– Não existe fio dental, nudez nem nada do tipo nas nossas competições, mas as mulheres são livres para se expressarem de uma maneira sensual, sexy, se assim o desejarem –afirmou.
Mesmo em sua forma mais provocativa, esse tipo de dança exige muita força, especialmente no abdômen e nos membros superiores. Ter tolerância à dor para suportar o metal raspando contra a pele também é desejável.
– Esse tipo de dançarina é masoquista –, confessou Kyle, mostrando as palmas das mãos cheias de calos. – Você simplesmente continua praticando, até as terminações nervosas morrerem – acrescentou Petrovia, apontando para um curativo atrás do joelho.
Não existe fio dental, nudez nem nada do tipo nas nossas competições, mas as mulheres são livres para se expressarem de uma maneira sensual, sexy, se assim o desejarem".
WENDY TRASKOS
criadora do Campeonato Americano de Pole Dance
Para destacar-se na barra, porém, é preciso mais do que força bruta e alta tolerância à dor. No Campeonato Americano de Pole Dance, as solistas são julgadas tendo como base cinco critérios: performance; flexibilidade e extensão; dificuldade dos movimentos; transições únicas e suaves; e técnica.
Nos níveis mais altos, tanto amador como profissional, as dançarinas precisam incluir diversos movimentos obrigatórios na série, usando duas barras, uma estática e uma giratória. Os deste ano incluem o espacate invertido no alto da barra e a retroflexão da coluna com uma perna por cima da cabeça e a outra enrolada na barra.
Segundo as regras da Federação Americana de Pole Dance, as dançarinas podem conquistar o status de profissionais, uma honra para poucas, apenas competindo na divisão amadora.
Jena Clough, de 32 anos, proprietária de um estúdio e mãe de dois filhos, de Cape Cod, Massachusetts, foi uma das sete amadoras que obtiveram o título de profissional este ano, chegando em terceiro lugar. O reconhecimento, disse, aumentaria seu currículo, ajudando-a a conseguir mais alunos e apresentações.
Enquanto a coreografia de Clough pendeu mais para o erotismo, em todos os níveis houve performances que conversaram com diversos estilos e atitudes, desde a rebeldia do punk rock até o lirismo elegante. Nomes como Candy (Doce), Magnetic (Magnética), Apocalyssa (Apocalíptica) e Serpentia (Serpente) refletiam o espectro de personalidades. Algumas competidoras construíram personagens e histórias com adereços e fantasias – um pirulito reluzente, confetes brilhantes, uma longa saia de cetim e um chicote de couro marcaram presença –, enquanto outras preferiram uma abordagem mais abstrata.
Nos bastidores, antes das duas sequências da prova profissional, Joscelyn Perez, de Miami, explicou que, para ela, a música era primordial.
– Quero me concentrar em interpretar a canção com o corpo, evocando o espírito da música – descreveu. Sara Joel, de Long Island, contou que tentaria "comunicar algo, uma emoção, e fazer uns movimentos muito legais".
Antes de dançar em barras, Perez, de 35 anos, fez balé; Joel, de 48, dança moderna e circo. Entretanto, ter experiência com dança não é pré-requisito para começar, como também não é ser extremamente jovem, diferentemente do que é valorizado em outras formas de dança competitiva.
A pole dance em um clube de strip-tease é completamente diferente de uma apresentação artística".
WENDY TRASKOS
Svetlana Semenishchevka, primeira colocada na categoria profissional, começou há sete anos em Miami, com 25 anos, sem ser atleta nem ter nenhuma experiência relevante com dança. Keith Taylor, de Chicago, 26 anos, começou aos 22; Jill Anne, de Nova York, aos 40, e continua firme e forte aos 50.
Se por um lado a modalidade está aberta a iniciantes mais velhos, por outro começa também a visar aos mais jovens nos Estados Unidos, assim como já acontece em outros países. Isso em parte porque a Federação Internacional de Pole Sports está pleiteando reconhecimento olímpico. No torneio nacional da Liga Americana de Pole, crianças a partir dos seis anos já podem competir em algumas categorias. A competidora profissional Ziva Lynn, de 38 anos, que fundou uma equipe de pole dance na região de Detroit, vê futuro no esporte.
– Um dia, quero dar aulas a bebês olímpicos – afirmou.
Não obstante, ainda há quem veja a modalidade mais como um espaço de expressão do que de disputa. Como Taylor definiu:
– O que me encanta na pole dance é você ser capaz de fazer qualquer coisa com ela. Um dia, pode usar para liberar seu lado sensual, em outro, o acrobático, ou, às vezes, você pode apenas querer dançar.
Por Siobhan Burke