Eu queria estar mais feliz escrevendo esse texto, mas confesso estar dividida. Parte de mim está esperançosa, outra parte está despedaçada.
Essa semana foi especial da Consciência Negra no país. No dia 20 de novembro, falei sobre a data e sobre a necessidade de sua existência. Os eventos ocorridos nesta última semana só mostraram o quanto necessitamos disso. Participei de alguns eventos com temática negra (esse mês costuma ser mais agitado) e fiquei supercontente com o tanto de gente talentosa, de opinião e compartilhando o sentimento de mudança.
Na noite de domingo (26), duas negras estavam entre as finalistas do Miss Universo 2017, uma delas a brasileira Monalysa Alcântara. Sua escolha como representante do nosso país foi extremamente julgada: falaram de seu perfil, que ela era "comum", usaram palavras racistas e fortes quando ela venceu o Miss Brasil. A prova de que ela era capaz veio em forma de brilho na noite do concurso e de sua posição entre as 10 finalistas.
Monalysa Alcântara - Fotos: AFP
O Miss Universo também trouxe entre as três finalistas a candidata jamaicana, a Miss Davina Bennett, "coroada" mesmo sem ter ganho o concurso – e eu digo coroada porque ela estava com sua coroa natural, seu black power, a força e representatividade disso é sem tamanho. Já ouvi dezenas de meninas e mulheres insatisfeitas com seu cabelo afro semelhante ao de Davina por não ter cachos definidos. Com certeza, muitas irão repensar a beleza de seu cabelo e sua pele após a noite deste domingo.
Por outro lado, dois casos sérios e negativos ocorreram também nos últimos dias. A ridicularização de um discurso forte e doloroso feito na palestra do TEDx por Taís Araújo, quando a atriz cita o medo que sente em relação aos seus filhos e a sociedade racista em que vivemos. A atriz sofreu muitas críticas por isso e julgada por estar fazendo jogo de vitimização. Cadê o respeito pela fala das pessoas?
Outra situação extremamente delicada foi com uma criança – sim, uma criança!! Em um vídeo exposto nas redes sociais, uma escritora ofendeu Chissomo, filha de Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso. Felizmente as medidas cabíveis estão sendo tomadas, e a escritora já foi denunciada por injúria racial. É a segunda vez que o casal tem que denunciar casos como esse, sendo que a filha tem apenas quatro anos. E então volto a citar o discurso de Taís: será que é mimimi mesmo?
Não dá pra baixar a cabeça, passar desapercebido ou esperar que as coisas melhorem sozinhas. Reproduzo a frase que se popularizou essa semana da ativista negra mais conhecida no mundo, Angela Davis:
"Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É preciso ser antirracista".
Racismo deve ser combatido e precisamos de todos para isso.
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Duda Buchmann é blogueira que gosta de falar do mundo feminino, principalmente da mulher negra, e de inspirações que elevem a autoestima delas. Escreve semanalmente em revistadonna.com.