O álbum de fotos da família Amaro mostra a carreira precoce da caçula Pâmela, 29 anos. Aos cinco, já cantava entre tios que tocavam violão e surdo em uma roda de samba no quintal. Com avó seresteira, avô que tocava chorinho e pai sambista e agitador de encontros regados a música, soltar a voz era natural. Ainda assim, ela se decidiu por ser atriz.
O primeiro trabalho na Faculdade de Artes Cênicas, na UFRGS, já exigiu que cantasse e tocasse percussão em uma opereta. Desde então, os talentos são entrelaçados para a cantora e compositora de samba. No espetáculo Lupi, o musical: uma vida em estado de paixão, interpretou quatro papéis, incluindo o de Lupicínio menino e o de Elza Soares. Há seis anos, passou a cantar em bares, casas noturnas e saraus, sempre acompanhando a voz com as batidas no pandeiro ou a levada no cavaco. Também é uma das Três Marias, que exploram ritmos brasileiros como jongo, ijexás e coco.
Mais do que local de trabalho, o bar é um espaço de estar entre amigos e cantar os sambas de que Pâmela realmente gosta: sempre de raiz, apostando em compositores menos conhecidos.
Além de ter uma bela voz, é raro uma cantora e compositora de samba no Rio Grande do Sul. É notável a liderança da Pâmela em relação aos músicos da banda, e ela demonstra uma preocupação em valorizar a cultura negra.
Juarez Fonseca, crítico musical
– Como atriz, estou atrás de um personagem. No show, é a Pâmela cantora, sou eu mesma, a minha essência. Não posso dizer que estou com esse figurino porque estou representando, mas, sim, porque me identifica – destaca, explicando que a roupa com turbantes, braceletes, cores e estampas de matiz africana é uma das maneiras de valorizar a cultura negra.
Com um EP previsto para o primeiro semestre de 2017, Pâmela lança mão das composições para mostrar que a mulher também tem malandragem – ela criou hinos que se popularizaram entre os foliões do Carnaval de rua de Porto Alegre com os blocos da Laje e Turucutá. Mas, volta e meia, se vê obrigada a fazer um contraponto a letras que refletem o ambiente ainda machista do samba. Em Veneno do Café, escreveu: “Sou Maria da Penha, não Maria Degolada, sou a sua companheira, não a sua empregada. Esse tal de seu machismo tá com nada meu irmão, mude a letra do seu samba que eu encerro a minha canção”.
INFLUÊNCIA: Dona Ivone Lara, Leci Brandão e Nilze Carvalho
QUANDO VER: No dia 25, às 20h, no Teatro Renascença, em show que reunirá sete cantoras negras gaúchas.
ELA RECOMENDA:“A rapper Negra Jaque fala de uma voz e de um lugar que precisam ser escutados.”
Leia também:
Ficha técnica do ensaio:
Fotos: Mateus Bruxel
Cabelos Diego Sarkisian (Diego Cabelos) e Thiago Roldão
Maquiagem: Cassiano Pellenz e assistente Índia Santos (salão Cassiano Pellenz)
Agradecimentos: Theatro São Pedro