Há uma frase de uma das escritoras que mais admiro, Cintia Moscovich, que sempre me encantou. Mexeu tanto comigo quando a li que resolvi reproduzi-la em um Post-it e fixá-la no escritório, diante dos olhos: “Guarda tuas lágrimas para momentos piores”. Não foi uma nem 10 vezes em que olhei para esta frase e percebi que o choro entalado na garganta não merecia ganhar vida – e a decisão de engoli-lo me fez mais forte. Por uma simples razão: há momentos piores. Sempre.
OBRIGADA, CINTIA!
Gosto demais do significado que li há mais tempo a respeito da diferença entre “contratempo”, “revés” e “tragédia”. Se a gente parar para analisar, a maioria das coisas ruins que acontecem na vida são contratempos. Reveses são mais sérios, mas podem ser corrigidos. Já quem passa por uma tragédia entende a diferença.
BEM DIFERENTE
Todas as coisas na vida são colocadas em termos de proporção e perspectiva – e esta premissa ajuda sempre a entender que a probabilidade maior é de que aquilo que está me angustiando agora, ou angustiando você, seja apenas um contratempo. Então, o que temos a fazer? Relaxar.
Vivemos em uma sociedade que demanda felicidade em tempo integral – e isso é angustiante. A tristeza não só pode como deve fazer parte da vida. É a combinação desses dois sentimentos que nos torna seres humanos saudáveis. O problema é que esta sociedade é tão tirana que joga em nossos ombros uma culpa quase insuportável pelo fato de nos sentirmos tristes.
CULPA QUE DÓI
A tristeza é definida como uma emoção negativa, que produz vergonha, que devemos esconder. Somos inseguros, frágeis, incapazes, se nos mostramos tristes. Pois uma pesquisa recente veio trazer certa luz à este túnel aparentemente escuro e sombrio: pessoas que choram são mais equilibradas emocionalmente.
EU JÁ SABIA
Quem muito bem interpretou este estudo foi a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, autora de dois best-sellers que recomendo: Mentes Perigosas e Mentes Inquietas. Não há motivo para esconder a tristeza, defende Ana. Só as pessoas seguras de si, com grande inteligência emocional, são capazes de reconhecer suas emoções e expressá-las, ainda que sejam consideradas “negativas”. Não tem maior causa para chorar que não poder chorar, já dizia o filósofo Séneca.
MESTRE
Reprimir as emoções, ensina Ana Beatriz Barbosa, tem um grande custo, não só para nossa saúde psicológica como também física. Numerosos estudos têm vinculado a repressão emocional com um maior risco de desenvolver enfermidades como asma, hipertensão e patologias cardíacas.
CORAÇÃO APERTADO
Segundo a pesquisa, 70% das pessoas consideram que chorar é reconfortante. Chorar muda a perspectiva com que encaramos uma situação. “O choro estimula a libertação de endorfinas em nosso cérebro, que nos ajudam a aliviar a dor e também fomentam um estado de relaxamento e paz”, explica Ana Beatriz. “É por isto que depois de chorar, nos sentimos melhores e relaxados”.
QUASE NO NIRVANA
Assim sendo, como escreveu Cintia Moscovich, quando não for possível guardar as lágrimas para momentos piores, a gente chora. Devemos chorar. Não porque somos débeis ou incapazes, mas porque estamos vivos e sem vergonha de demonstrar sofrimento e fraqueza.
EU CHORO TODOS OS DIAS
EU TAMBÉM
EU TAMBÉM
MANHA PRA PASSEAR