Você acabou de almoçar com seu marido (noivo ou namorado… Enfim, um ser do sexo masculino) em um restaurante pet-friendly (eles são cada vez mais numerosos, que bom!) e acabou não pedindo sobremesa. Vontade não faltou, mas seu marido quis apenas um café expresso, olhou para sua cara como quem diz “não precisa comer sobremesa” e você ponderou que podia seguir vivendo o resto do dia sem aquele docinho no final da refeição.
LEDO ENGANO
Vocês deixaram o restaurante caminhando com os cachorros, mal viraram a esquina (você com aquela vontade de trincar os dentes por um docinho martelando na sua cabeça) e toparam com uma confeitaria no meio do caminho. Você ficou hipnotizada. “Só um brigadeiro”, pensou. “Bem pequeno. Só para adoçar a boca”, continuou pensando.
SÓ UM
Então, você lembrou que era domingo, que você mantém o controle da alimentação a semana inteira, que se entope de salada verde e abacaxi com canela para tentar esquecer o chocolate, que trabalha feito uma mula, que cuida da casa, dos filhos, dos cachorros, que trata de estar sempre bonitinha, de unha feita e cabelo escovado, que não falta à academia, que se estrebucha na maldita esteira ergométrica – e naquele dia, um domingo, você vai, sim, se dar o direito de comer um mísero brigadeiro.
ESSA COISA INOFENSIVA
Você comunica em alto e bom som que vai entrar na confeitaria para comprar o brigadeiro. Seu companheiro dá de ombros, como se não se importasse com a decisão – e menos ainda com o brigadeiro. Você pergunta se ele quer um também. Ele responde “não, obrigado, fiquei bem com o café”. Então, você deixa os cachorros com ele, coloca o peito para frente e entra confiante no estabelecimento. Para hipnotizada diante da vitrine de doces e faz o pedido:
– Um brigadeiro, por favor.
– Só um? – pergunta a funcionária.
– Sim, apenas um – você responde.
– Para comer aqui ou para levar? – ela quer saber.
PARA COMER AQUI!!
AGORA!!
JÁ!!!
PELO AMOR DE DEUS!!!!
A funcionária alcança aquele brigadeiro e você acomoda o doce na mão como se fosse um diamante raro. Percebe toda a circunferência e fica pensando por onde começar a degustar aquele sabor do paraíso. Dá uma pequena mordida, sente o doce entrando em contato com suas papilas gustativas. Quase solta uma lágrima de emoção.
ELA É MUITO DRAMÁTICA
Então, você se vê parada no meio da confeitaria, vivendo um romance com aquele brigadeiro e trancando toda a passagem dos clientes. Resolve voltar à realidade e seguir mordiscando devagar aquela maravilha enquanto passeia com seu marido e seus cachorros. Oferece um pedaço do brigadeiro ao seu companheiro como forma de ser educada, desejando que ele responda “não, obrigado”. Mas ele diz que sim.
SIM!!!!!!
POR QUÊ????
Você estende a mão e dá o doce na boca dele para tentar delimitar uma fronteira de avanço das tropas dentárias do seu marido e evitar, assim, que ele engula o brigadeiro inteiro. Só que homens não tem essa delicadeza – e o que acontece? Ele engole quase todo o seu brigadeiro em uma única dentada.
– Está bom, hein? – fala.
ESTAVA!!!!!!
Pensei que eu fosse a única mulher do mundo egoísta com sobremesas, mas conversando daqui e dali descobri que não. Sabe por quê? Porque homens têm mania de não pedir sobremesa para depois devorar a nossa. Faço minhas as palavras da advogada e escritora Ruth Manus, que conheci recentemente.
RUTH COM SEU NOVO LIVRO
Conclama ela: “Pessoas do mundo. Especialmente homens. Contribuam para um mundo melhor: por favor, peçam suas próprias sobremesas. Nos deixem ser felizes. Nos deixem comer em paz. Ou no mínimo tenham a decência de dizer ‘vamos dividir?’ para que a gente se prepare psicologicamente. Dividir conscientemente é uma coisa, ser furtada é outra”.
DÁ PRA COLABORAR?