Adoro revistas antigas e, para meu deleite, meu pai coleciona várias. Na casa dele tem exemplares de Seleções mais antigas do que eu. Me divirto com as propagandas, especialmente aquelas que tem a ver com o mundo feminino. Encontrei uma edição especial sobre o Dia das Mães, de 1960. Panelas de inox eram o máximo da novidade, algo que toda mãe adoraria ter. Cinquenta e cinco anos depois, muita gente ainda acha que panelas é um bom presente para se dar às mulheres... Ter uma geladeira da marca Frigidaire também era o must, principalmente se fosse daquelas cujo interior era pintado de azul ou rosa (pra quê?). Também estava chegando ao mercado um tecido revolucionário: a helanca, e as roupas com este material viraria sonho de consumo de 10 entre 10 mulheres elegantes. Ah, e os cigarros Hollywood eram a melhor companhia de homens e mulheres de classe.
Nada, porém, me chamou tanto a atenção quanto um artigo assinado por uma senhora chamada Joyce Lubold, intitulado Guerra ao Sexo Acintoso, em que ela reclamava das "quentes" cenas de sexo e paixão exibidas nos filmes do cinema e nos livros de romance. Imagino que, se esta articulista ainda estiver viva, deve escandalizar-se diariamente com o que vê por aí... Ela escreveu que se sentia uma "subsexuada", porque, se estabelecesse uma comparação com as esfuziantes mulheres dos filmes e romances, ficaria mais do que evidente que não estava à altura delas. "Aquelas garotas sentem perenemente as inelutáveis pulsações do sexo, ao passo que eu, comum mortal, estou habituada a sentir só de vez em quando alguns tremores."
Vejam que primor este trecho: "Sei, por exemplo, como me sinto quando acabo de ver um filme assim: inquieta. Pois a heroína luta constantemente contra ininterruptas ondas de paixão que a arrastam de um lado para outro. Mas o detalhe mais importante é que ela passa todos os instantes da sua vida pensando nesta paixão, neste fogo ardente. Pois bem, eu vou fazer uma declaração pública: não penso como ela pensa. Passo horas sem ter um pensamento sexy. Resolvi contar isso ao meu marido. Confessei-lhe que eu pensava em outras coisas que não só sexo. Ele ouviu em silêncio e sabem o que ele disse? Que também, diferentemente dos filmes e dos romances, ele tinha outros pensamentos, e que não passava seus dias maquinando formas de conquistar a ruiva do escritório ou a loura do bar".
A conclusão a que ela chega é tão atual, mesmo passado tanto tempo, que merece ser lida. "Começamos a conversar e concluímos que ou o sexo íntimo que vivemos está fora de moda ou o sexo acintoso dos filmes e romances é que é um exagero. Acreditamos que nossa noção de sexo em particular é que deve servir de padrão e nortear a educação dos nossos filhos. Porque eles, não tendo ainda discernimento, poderão confundir a cópia barata com o original, o arrepio passageiro com o encantamento duradouro que com a idade poderão merecer. O que precisamos ensinar-lhes e o que nós mesmos devemos lembrar é que o amor entre duas pessoas não é feito à máquina, mas sim produto de sincera atenção de ambas as partes, e que a maneira de expressar esse amor é infinitamente variável e pessoal."
Joyce Lubold, você tem toda a razão.