Meia-idade. Não gosto desta expressão. Parece que está dizendo assim: olha, você tá caminhando para perto do fim! Eu sei disso. E quem não sabe? Mas não precisa ficar repetindo essa ladainha sem graça o tempo inteiro. Coisa mais chata.
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Eu não quero ser "meia", me recuso a esse rótulo. Quero ser inteira - mesmo aos 50, qual é o problema? Os anos passam - tá na cara, no corpo, na lei da gravidade - e isso não me faz nem mais nem menos feliz. A idade pode pesar um pouco na minha coluna, mas é leve como uma pluma na minha cabeça, e pra mim é o que vale mais. Vou envelhecer de fato quando não tiver mais sonhos nem planos, e eles ainda povoam minha mente dia e noite.
Todas as rugas são marcas do que vivi, e não fujo delas como o diabo da cruz. Os pés de galinha ao redor dos olhos? Estão aqui porque tenho o costume de rir. Desde menina. E não quero nunca me desacostumar. Bom humor rejuvenesce. Senão o corpo, pelo menos a alma. É um santo remédio.
Os quilos a mais, bem sei, são fruto da minha recusa em deixar de aproveitar as delícias da mesa, por mais que tenha consciência de que tudo em excesso faz mal. Especialmente chocolate, a qualquer momento, e pipoca doce no cinema. Tentações irresistíveis, que cometo e me arrependo e volto a cometer logo depois.
Os cabelos grisalhos? Transformo em mechas loiras, quando dá vontade de mudar, mas não fico caçando, como uma neurótica parada em frente ao espelho, cada fiozinho branco que decide dar o ar da graça no meu couro cabeludo. Que venham, que proliferem, não tem importância.
"Senhora de meia-idade" me faz lembrar daquelas vovós de coquezinho, vestido preto e avental, que tem na cesta de costura e no fogão seus grandes companheiros, e nas lembranças do passado a sua alegria. Não, esta figura não combina comigo - a não ser, talvez, pelo vestido preto, peça básica do meu armário. Mas tenho dezenas de lenços coloridos, também. Eles sim, representam a minha essência.