É feio, mas quem nunca pensou nisso que atire a primeira pedra...
Primeiro dia de aula na faculdade. De repente, a porta se abre e uma horda de veteranos invade a sala e começa a gritar:
- Vamos lá calourada, todo mundo de crachá e em pé.
Os calouros, que acabam de entrar na universidade, não têm muitas alternativas se não aceitar as brincadeiras, até porque os trotes (sempre dentro do limite, claro) são tradição nos cursos de comunicação.
Eu fiquei só observando. Os veteranos pintaram os rostos dos novatos, fizeram piadinhas, pediram umas moedas para a cerveja do final da aula. O interessante é que estes "veteranos" foram calouros no ano passado, e sofreram as mesmas brincadeiras. Tudo o que eles queriam agora era "dar o troco" nos recém-chegados (embora não tivessem sido eles os autores dos trotes do ano passado, pois nem estavam lá ainda). Os olhos da galera vingativa brilhavam de satisfação. Até que um dos alunos antigos resumiu, em alto e bom som, tudo o que eles estavam sentindo:
- Ah, como é doce a vingança!
Agora, depois de "batizados", são os calouros que só pensam em como vão sacanear os que entrarem no próximo ano. E assim é a vida, e assim somos nós, por mais que desejemos não deixar esse nosso lado "menos bonito" vir à tona.
Duvido que exista alguém que nunca pensou numa vingançazinha. Pode até não ter cometido, por falta de oportunidade, por medo de ser pego em flagrante ou por escrúpulos. Mas que pensou, ah pensou. Que me perdoem os que acham que "retribuir na mesma moeda" não leva a nada, mas muitas vezes é essa a vontade que dá.
Não estou falando em sair por aí matando aquele ex que nos trocou por outra mais nova e mais bonita, nem passar com o carro por cima do chefe que nos negou um aumento. Falo dessas coisas mais prosaicas, do dia-a-dia. Lá pelos anos 1990, conheci uma moça que trabalhava numa butique. Ela sofria assédio moral da gerente todo santo dia, e ninguém acreditava nas suas queixas (ou não davam importância, sei lá). Até que a jovem recebeu uma boa herança de família e não teve dúvida: comprou a loja e despediu a ex-chefe, não sem antes lhe dizer poucas e boas. Meses depois vendeu a butique e foi viajar com a grana. Ela só queria sentir o doce sabor da vingança. E deve ter sido muito doce mesmo...