Havia uma alegria indisfarçável no olhar de Lilica quando ela veio se despedir, depois de passar o mês de janeiro em Florianópolis. Estava de partida para o interior, onde, numa pequena cidadezinha, retoma agora a sua vida de médica há pouco formada que precisa trabalhar duro para aumentar a clientela.
Lilica abriu mão de todo o resto em nome da carreira. Desde os tempos da faculdade trocara as saídas com os amigos pelos livros de medicina, os possíveis namorados por trabalho voluntário no hospital. Queria ser sempre a primeira da turma, uma exigência que fazia a si própria. Os pais, com a sabedoria que só a idade traz, sabiam que Lilica estava deixando de aproveitar provavelmente a melhor época de sua vida. A adolescência e a juventude passam como um foguete, e nós só nos damos conta disso quando, já adultos, lembramos com nostalgia daquele tempo que ficou para trás. Mas era assim que ela queria viver, e não havia quem a fizesse mudar de ideia.
Formou-se com distinção na faculdade, por puro merecimento, e conseguiu um bom emprego. Estava radiante e tudo ia muito bem até o momento em que, com a vida já mais estabilizada, começou a perceber que não tinha com quem compartilhar essas conquistas. Os amigos foi deixando no caminho, sempre focada no sucesso. Namorado? Nunca teve tempo para pensar em investir numa relação um pouco mais séria. O apartamento, tão bem decorado, ficou grande demais para abrigar uma só pessoa.
Antes que a tristeza espreitasse pela fresta da porta, Lilica decidiu reagir. "Um mês de férias!", decretou. E veio para Floripa, onde reviu antigos amigos e parentes, saiu para dançar, aproveitou as praias, as festas e até encontrou-se com um antigo e talvez futuro namorado. Os olhos da médica recuperaram o viço, o sorriso voltou a emoldurar-lhe o belo rosto. No abraço de despedida, senti que uma mulher muito mais feliz e plena estava entrando naquele carro para encarar 2014 e tudo o que ele promete de bom.