O nome dele é Zoraido. A mãe, Zoraide, sempre achou que aquela barriga redondinha era sinal de que o bebê que esperava seria uma menina. Então, escolheu para batizar a criança o mesmo nome que recebeu da sua mãe. Como o namorado desapareceu assim que soube que ela estava grávida, resolveu homenagear a si mesma.
"Ele se chama Zoraido em uma auto-homenagem de mim para eu mesma, que sou uma guerreira e tive o filho sozinha", ela gosta de contar e repetir, sem se importar com redundâncias e concordâncias.
Achou que merecia isso e ponto final. Zozô, o apelido do menino, pegou. Pelo menos é melhor que Zoraido. Ele cresceu agarrado na bainha da saia da mãe. Ela trabalhava de faxineira, e ele ia sempre junto às casas.
Aí, ela dizia: "Filho, ajuda a mãe a varrer este pátio"; "Zozô, tira o pó daquela mesa"... E ele foi aprendendo o serviço. Durante anos foi assim, até que Zoraide morreu subitamente de problemas no coração. Zoraido ficou só no mundo, e ainda estava estudando, recém tinha completado 18 anos.
Pensou, pensou e decidiu seguir na profissão da mãe, que ele conhecia tão bem. Tornou-se faxineiro, mas não destes que limpam vidraças em prédios ou varrem ruas. Quis ser empregado doméstico mesmo. Assim, teria dinheiro, comida e principalmente companhia. Uma família, embora só emprestada.
Suas habilidades já eram bem conhecidas pelas freguesas de dona Zoraide. Todas elas já tinham visto Zozô ajudar a mãe. Conseguiu o primeiro emprego, duas vezes por semana, numa casa cuja patroa era jovem e muito bonita. O marido não queria Zozô por lá - era muito ciumento -, e o jovem estava realmente bonito, com um corpo bem moldado pela capoeira, esporte que praticava desde menino lá no morro onde moravam.
Outro marido também reclamou da mulher colocar um homem para trabalhar dentro de casa. Onde já se viu? Mas nenhuma delas queria abrir mão de Zozô, até porque o trabalho dele era muito bom. Combinaram, então, que ele fingiria ser gay. Assim os maridos o deixariam em paz. No começo ele não quis, mas depois achou até que seria divertido.
Dentro da casa das patroas, desmunhecava, tinha trejeitos, usava gírias próprias, até comentava sobre seus casos amorosos. Os maridos achavam engraçado... Nunca mais falaram nada. O tempo passou, na maior paz. Zoraido incorporou o papel de tal forma que hoje as patroas já nem sabem mais o que ele é.
Dias desses, estava só ele e minha amiga em casa. Apareceram o Malvino Salvador, o Marcelo Antony e o Bruno Gagliasso na TV. Zozô, mais do que depressa, abraçou a vassoura e disparou:
- Nossa, que gatos. Esses eu pegava!
A brincadeira está ficando séria.
Zoraido decidiu seguir a profissão da mãe, virou faxineiro
Viviane Bevilacqua
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