:: Por que os mascotes têm o poder de mudar (para melhor!) o nosso humor :: Dúvida na gravidez: meu gato poderá ser um perigo para o bebê?
Você bem que tentou, mas era tarde demais. Fixar o olhar naquela sinaleira não o impediu de voltar os pensamentos para o cachorro sem pelo e cheio de sarna que estava lá na outra esquina. Magro, ainda por cima, para criar uma atmosfera de mais absoluta culpa: pego ou não pego?
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Antes que reverbere pelo seu cérebro que tem gente passando fome, e que pessoas merecem mais esforços humanitários do que cães, lembre a questão da saúde pública: cães enfermos são vetores de doenças para qualquer um. Talvez você não tenha forças para combater os problemas do mundo, mas pode acabar com a fome daquela criatura e mudar seu destino que já está a meio caminho da cova. E essa possibilidade não sai da sua cabeça. O passo seguinte é correr até um supermercado e comprar ração de cachorro, aquelas em sachês, mais fáceis de abrir, se é que você já não tem uma de prontidão dentro da bolsa. Com comida na mão, torce para que o sarnento ainda esteja lá. E está, um pouco mais adiante, sentando e se coçando até que o “sai pra lá, cachorro!” o afugente mais uma vez. O que vem a seguir também é conhecido: ele foge. Pudera. Foram tantos chutes e maus tratos que ele não acredita que no ser humano possa existir alguma bondade. E lá vai ele trotando até a outra esquina correndo o risco de provocar um acidente de trânsito, outro mal que cães abandonados causam à cidade.
Agora é com você. Quem sabe se antecipa e fica alguns passos à frente dele? Assim o cão pode se sentir seguro e comer a ração que você colocou sem ser visto. É, às vezes funciona, às vezes, não; e o animal prossegue em sua fuga . Mas vamos torcer para que a fome seja maior do que a precaução. Voilá! Está perto. Agora é um cafunezinho na cabeça, outro nas costas e zás! Vem cá, cusco: vamos lá pra casa que você vai tomar um banho.
Foi assim? Acredite, você não é a primeira pessoa a fazer isso, e é saudável para a sociedade esse tipo de atitude, recolher animais abandonados e adoecidos para receberem tratamento. Não podemos mudar a sorte do mundo mas pelo menos a de um cachorro está em nossas mãos. E nas mãos mesmo. É por a mão na massa, ou melhor, na pele, sem essa de doações pela internet. É pegar no pesado e isso inclui pegar sarna também.
A solidariedade se simplifica quando é com os animais, o que facilita colocar em prática nossa vontade de terminar com o sofrimento de uma criatura, o que por si só já é digno de nota. Não fossem esses impulsos de solidariedade, o mundo estaria entregue ao caos. Aqueles que ainda gastam seu tempo para ajudar quem passa fome, acredite, são pessoas propensas a atos humanitários de diferentes formas, personalidade bem diferente se comparado àqueles que dizem o “sai pra lá, cachorro...”.
Seu gesto, porém, terá alguns desdobramentos, a começar por suas mãos e braços que logo logo começarão a coçar. Geralmente a sarna de cães e gatos não consegue fazer em humanos o estrago visto na pele deles, mas higiene e até produtos acaricidas não podem ser negligenciados pela pessoa que trata animais pegos da rua. O local onde dormirá o acolhido também ficará contaminado por ácaros e isso vale para jornais e cobertores usados para cama do bichinho, que a essas alturas já tem até nome. Mas nunca, jamais lave a cama de um animal contaminado com a dos outros pets da casa que, por precaução, também deverão estar recebendo banhos acaricidas.
A sarna pode ser mais severa do que se esperava, e é sempre bom o acompanhamento de um veterinário para esse discernimento. O profissional não raro também se solidariza com a causa, a do abandono, e faz um trabalho a preço reduzido. Depois de três semanas é possível verificar algum resultado, mas o tratamento se estenderá por mais alguns dias, mesmo período em que nosso amiguinho começa a ganhar peso e, vejam só, alguns pelinhos. Agora é ver se é possível ficar com o animal que você salvou ou arrumar um novo lar para ele. Não fique triste. Tenha a certeza de que há no mundo uma criatura feliz, que acredita no ser humano, espécie salvadora que lhe deu comida, casa e carinho. Também acabou aquela tortura do coça-esfrega, atitude que certamente o levaria à morte, de forma lenta, se não houvesse a intervenção de alguém. Você fez a sua parte exercitando seus princípios de pessoa que age para o bem, o que, com infinita certeza, contribui enormemente para a construção de um mundo melhor para se viver.