A morte do modelo Tales Cotta em plena passarela da última São Paulo Fashion Week, em abril, ainda melindra a produção do evento. Tanto que, encerrada a 47ª edição, o diretor artístico Paulo Borges reuniu a diretoria da IMM Esporte e Entretenimento, que comprou 50,1% da controladora do evento, para insistir na saída das apresentações do Espaço Arca e na volta do evento ao Parque Ibirapuera.
Até um mês atrás nada estava garantido. Mas uma parceria com a SPTuris abriu as portas para o retorno dos desfiles ao Pavilhão das Culturas Brasileiras, última parada da SPFW antes da assinatura do contrato com o Arca, no ano passado, festejada pela produção e criticada nos bastidores.
Longe do Centro e com acesso dificultado pelo trânsito, o espaço isolou a semana de moda num miolo decrépito da zona industrial paulistana. Foi a primeira atitude de um esforço coordenado para recuperar a simpatia de patrocinadores, imprensa e convidados, arranhada depois da decisão do evento em continuar as apresentações mesmo após o anúncio da morte de Cotta.
A segunda foi trazer de volta uma das principais grifes do país, a Ellus, cujo sócio-fundador, Nelson Alvarenga, havia dito em entrevista a este jornal, no mesmo mês de abril, que não desfilava mais porque "o negócio ficou destrutivo".
"Eu vou fazer desfile para quem? Para uma blogueira que todo mundo sabe ser paga para falar bem? Para a imprensa chegar e fazer uma crítica negativa?", disse à época.
A declaração causou mal-estar porque o próprio Alvarenga era sócio da Luminosidade e foi um dos articuladores de sua venda à IMM Participações, controlada pelo fundo árabe Mubadala Development, dona de parte da Rock World S.A, do Rock in Rio.
Para a próxima edição, a Ellus foi convidada a abrir a programação no Farol Santander. A marca confirmou o convite feito por Paulo Borges e disse, em e-mail assinado por sua diretora criativa, Adriana Bozon, que o retorno será "ótimo".
A grife deverá desfilar a habitual mistura de "jeanswear" e roupa utilitária pela qual ficou famosa entre o público jovem. A influência do esporte na roupa cotidiana também deve permear a coleção de Bozon, assinada pelos estilistas Thiago Marcon e Muriel Mingossi.
Procurada desde a semana passada, a organização da São Paulo Fashion Week não respondeu aos questionamentos sobre a volta ao Ibirapuera, as estreias e mudanças de gestão.
Morte de modelo
No dia 27 de abril deste ano, Tales Cotta, nome artístico de Thales Soares, caiu na passarela durante o desfile da marca gaúcha Också, foi atendido por socorristas e levado ao hospital, mas não resistiu. Em um primeiro momento, devido à forma como caiu e pela espuma em sua boca, a suspeita era de que ele havia sofrido um ataque epilético.
Os bombeiros tentaram reanimar o modelo no local, antes que ele fosse levado ao Pronto Socorro Municipal da Lapa. O caso, ocorrido em uma das semanas de moda mais importantes do mundo, repercutiu também fora do país.
A causa do edema pulmonar que matou o modelo foi uma doença no coração provavelmente desconhecida pela família. A informação foi apontada por laudo necroscópico obtido pelo G1. O documento também descarta a presença de drogas e álcool no organismo do jovem de 25 anos.
O modelo mineiro trabalhava para a Base MGT, agência de São Paulo, desde setembro de 2017. O desfile fatídico era sua segunda participação na SPFW.