Uma bolsa que carrega o celular com energia solar. Uma camisa tecnológica resistente a líquidos, odores e até amassos. Parece coisa do filme De Volta Para o Futuro, mas são algumas das novidades garimpadas por aí pela jornalista Alexandra Farah.
Considerada a papisa brasileira das tecnologias vestíveis – os chamados wearables –, a expert desembarca em Porto Alegre como uma das convidadas da Maratona MMX. Promovido pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), o evento discute temáticas como inovação, tecnologia e negócios para o mercado de moda e design e rola no ParkShopping Canoas, nos dias 7 e 8 de dezembro. Conversamos com Alexandra sobre como a tecnologia traz avanços para a indústria fashion.
Como vê os avanços na tecnologia vestível no Brasil?
Senti que cresceu bastante. No mundo inteiro, é uma indústria que demanda muita pesquisa. Não é algo que entra e sai da moda. Descobriu-se que não há outro caminho, as roupas precisam ganhar funcionabilidade e ser mais inteligentes. Os wearables existem há anos. O próprio marcapasso é um wearable, assim como o aparelho de correção auditiva. Não é só luz e LED, ou o tênis de luzinha que foi moda. O movimento dos wearables é grande nos laboratórios, envolve muito dinheiro. No Brasil, a coisa é mais devagar. Neste ano, o WeAr (festival que debate tecnologia na moda, criado por Alexandra) abriu (tratando sobre) a inovação na moda. Pesquisamos e reunimos start-ups que trazem inovações nos serviços ou na maneira de produzir.
E como essa tecnologia vai chegar ao grande público?
Este é o quarto ano do WeAr, e pela primeira vez consegui ter uma loja onde todos os produtos têm alguma tecnologia. Da camiseta de R$ 30 da UV Line que tem proteção UV, à bolsa que capta energia solar e custa R$ 800 – não é R$ 8 mil. A camisa que não suja custa R$ 200. Não é em grande escala como uma fast fashion, mas isso já está no mercado. Há quatro anos, não tinha. Agora é só crescer!
O que você destaca de novidade do último WeAr?
Em vez de usar fita métrica (para tirar as medidas), a Genyz escaneia o corpo e entrega a roupa em quatro dias. A camisa que não suja (da Horvath&Co.), que é biotecnologia. Quando você pensa em tecnologia na roupa, é muito mais difícil do que em uma geladeira. Você compra o eletrodoméstico e deixa lá. A roupa tem um desgaste grande, e você ainda lava na máquina (risos). Há muitos testes. É mais difícil do que lançar uma nova televisão. Com acessórios é mais fácil. No festival, tivemos três bolsas. Uma delas é um forno elétrico (da Voilà Bag), que resfria a sua comida e, quando você quer esquentar, liga o cabo na tomada. E é linda! Outra start-up do Rio, a Flying to the Sun, fez uma bolsa que capta energia solar e carrega seu celular.
Tendo como exemplo a bolsa que funciona para carregar o celular, quando você pensa um objeto o que prioriza?
Ninguém vai abrir mão da beleza para comprar algo que seja inteligente ou sustentável. Esse é um dos fatores que faz os sustentáveis não dominarem a indústria: a maioria não é tão bonito quanto os outros itens não sustentáveis. O preço também, mas acho que as pessoas estão dispostas a pagar um pouco mais se gostarem e souberem que é um produto inteligente e que não faz mal para o planeta. Fico muito sem bateria. Quando você vai para uma baladinha, não quer carregar fio de carregador. Como uma pessoa da moda, quando criei minha bolsa, pensei que precisava ser bonita. Você pode levar como clutch ou usar como carteira. Tinha que funcionar e ser linda! Inovar, hoje, é difícil. A moda vive fazendo referências ao passado. É legal ver uma moda anos 1980, mas eu não vivo como há 40 anos atrás. Nós carregamos o celular na mão 24 horas, queremos comer orgânicos, o tempo é mais doido, quente e frio no mesmo dia. Os avanços que vão acontecer na moda agora serão menos estéticos, porque já usamos de tudo... Míni, longa, prateado, dourado, bufante, justo... A revolução vem da funcionabilidade, que precisa ser via estética.
O que uma marca precisa ter para estar atenta a esse consumidor que preza por sustentabilidade e tecnologia?
Aumentar a verba de pesquisa! Não de tendências da nova cor ou estampa, mas talvez de tendências que não gerem resultado hoje ou no próximo Natal, mas que vão elevar o nome da sua empresa de verdade. Precisa colocar na mesma prateleira a sustentabilidade e a tecnologia. As pessoas pensam que o tecnológico é o tênis de luzinha, e o sustentável é o algodão orgânico. Mas, para fazer o algodão, precisa haver tecnologia. Só por meio da tecnologia vamos conseguir fazer uma moda mais limpa e sustentável.
Maratona MMX
Dias 7 e 8 de dezembro, no ParkShopping Canoas (Av. Farroupilha, 4.545)
Ingressos a partir de R$ 90 no site.
A programação inclui palestras, oficinas, exposições, uma batalha criativa e um hackaton. Veja os destaques:
• Sexta, 12h: painel sobre os rumos do genderless na moda
• Sexta, 14h30min: O estilista Vitorino Campos fala sobre seu processo criativo.
• Sexta, 16h: Alexandra Farah discute a alta tecnologia na moda.
• Sábado, 17h30min: Alan Pierre, da Farfetch, fala sobre marketplaces de moda.
Leia também: