Donald e Melania Trump, que usa vestido Givenchy, na Flórida. Foto: Stephen Crowley/The New York Times O casal no Trump International Golf Club Palm Beach in West Palm Beach, Florida, em 5 de fevereiro deste ano. Foto: AFP / MANDEL NGAN O presidente dos Estados Unidos e a primeira-dama Melania Trump, de look Christian Dior, em baile na Mar-a-Lago. Foto: Stephen Crowley/The New York Times
The New York Times News Service
Por Vanessa Friedman, chefe de crítica de moda do New York Times
Foi rápido. Duas semanas depois de sua declaração de moda "EUA Primeiro" na posse do presidente, Melania Trump ressurgiu de sua vida quase reclusa em Nova York para acompanhar o marido em Mar-a-Lago, também conhecida como a Casa Branca de inverno/campo de golfe exclusivo na Flórida. E, no que diz respeito à linguagem de suas roupas, os Estados Unidos quase foram os últimos.
Em 3 de fevereiro, saudando o presidente que desembarcava do Air Force One em Palm Beach, a primeira-dama usou um vestido com capa vermelho curto da Givenchy. Em quatro de fevereiro, em um baile da Cruz Vermelha, vestiu um longo cor de rosa da Christian Dior (duas marcas conectadas, aliás, com a LVMH Moet Hennessy Louis Vuitton, o conglomerado de luxo francês liderado por Bernard Arnault, único magnata estrangeiro do luxo que fez uma peregrinação pós-eleição à Trump Tower). Mas, em cinco de fevereiro, em uma festa do Super Bowl no Trump International Golf Club, ela colocou calças de couro da The Row, marca de Mary-Kate Olsen e Ashley Olsen, e um suéter de tricô fino de Derek Lam, dois nomes que estavam na Semana da Moda de New York.
Isso importa?
Por um lado, Melania Trump tem sido explícita sobre seu desejo de evitar, pelo menos por enquanto, chamar a atenção em Washington. Talvez suas roupas sejam parte dessa estratégia, e por isso a questão era simplesmente parecer elegante e não se preocupar demais com a aparência. Se for assim, ela alcançou o objetivo.
No entanto, ela também disse que quer viver de maneira significativa o papel de primeira-dama, e certamente essas aparições foram parte desse objetivo. A escolha do vestido vermelho – que formou uma dupla atraente com a gravata da mesma cor do presidente Donald Trump enquanto os dois andavam juntos pela pista – foi conscientemente simbólica. Stephanie Winston Wolkoff, conselheira de Melania Trump, afirmou que a cor era uma homenagem ao "Dia Nacional de Usar Vermelho, para destacar a importância e aumentar a consciência sobre doenças cardíacas".
Então, não é que não estão pensando no assunto. Ou que não estão conscientes do valor simbólico do vestido, especialmente quando se trata de uma primeira-dama que prefere que suas roupas falem por ela.
Se for assim, há uma contradição explícita em sua escolha de roupas, dada a promessa de seu marido no discurso de posse de que "comprar o que é americano" seria um princípio de sua administração. Mas o requerimento de vestidos feitos nos Estados Unidos para as primeiras-damas, que historicamente tinha um valor, foi em grande parte deixado de lado pela administração Obama e transformado em um veículo de alcance além das fronteiras. Foi Donald Trump quem transformou essa história em questão novamente, em um fórum provavelmente mais público, e permanente, do que o Twitter.
Quando perguntada a respeito, Stephanie Winston Wolkoff mandou um e-mail com a seguinte declaração: "Madame Trump apoia de maneira orgulhosa e há tempos a moda americana. Ela aprecia moda como arte. Como ex-modelo, sempre apoiou os mais conceituados designers do mundo tanto daqui quanto do exterior. Madame Trump compra de uma mistura internacional de marcas porque é isso que reflete sua experiência de vida e estilo exclusivamente americanos. Ela está mais animada do que nunca para montar uma plataforma para os designers americanos como fez em uma das mais importantes semanas da história, a da posse, mostrando o extraordinário talento desses profissionais".
Em outras palavras: comprar coisas europeias é um reflexo da experiência de compras americana.
Para qualquer pessoa que tenha andado por uma rua de compras importante de uma grande cidade dos Estados Unidos – como a Quinta Avenida em Nova York, onde Melania Trump mora – é difícil argumentar o contrário. Embora pareça uma espécie de raciocínio torto, um que poderia ser explorado por empresas que querem mudar algumas de suas fábricas para o exterior. Essa escolha é, afinal, também uma parte da história industrial dos Estados Unidos.
De qualquer forma, é importante notar que a Givenchy e a Dior tem estado quietas desde o final de semana, outro indicador do relacionamento ainda ambíguo da indústria da moda com Melania Trump. Nenhuma das empresas emitiu o já natural comunicado de imprensa trombeteando a aparição da primeira-dama em um de seus vestidos. Perguntada se a marca havia trabalhado com a primeira-dama na escolha do vestido vermelho, a porta-voz da Givenchy disse que a empresa não faria nenhum comentário, e que o vestido havia sido comprado em uma loja, sem qualquer discussão interpessoal. (Ele está a venda no site da Neiman Marcus, entre outros, por US$ 2.095.)
Quanto à Lam, que em novembro declarou à revista de moda WWD, "Realmente não me vejo muito envolvido com a presidência de Trump", a situação mostra bem o problema com essa postura. Afinal, a primeira dama é livre para comprar seus produtos, quer ele queira ou não se envolver. O que é, mais ou menos, outra história americana.
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