"Queria ser rica, ter sucesso. Decidi que iria conquistar os meus sonhos. Não sabia bem como, mas iria. Então comecei a trabalhar. E não é que deu certo"
É assim, sem rodeios ou meias palavras, que a joalheira gaúcha Rosa Leal, 37 anos, descreve a meteórica ascensão dos Braceletes Italianos, pulseiras em prata e banho de ouro que lançou no mercado há menos de dois anos e que já caíram no gosto de famosos de todos os tipos, de Luan Santana a Fátima Bernardes, da blogueira Thássia Naves à atriz Danielle Winits. Dia sim, outro também, Rosa compartilha em suas redes sociais a postagem de algum badalado que tirou uma foto de si mesmo com o pulso adornado pelas criações da gaúcha.
Morando em Miami, mas circulando com frequência por Porto Alegre e Rio de Janeiro, Rosa, ao que tudo indica, conseguiu mesmo o que queria: sozinho, um de seus oito perfis no Instagram já tem quase 59 mil seguidores, ela vende suas pulseiras no mundo todo e os eventos de lançamento de suas coleções estão sempre repletos de celebridades.
Workaholic incorrigível, dorme três ou quatro horas por noite e toma conta de absolutamente tudo na empresa – desde a divulgação dos produtos, feita basicamente nas redes sociais por ela mesma, até a parte financeira e as questões legais.
Em função do tempo, não consegue mais cuidar sozinha da criação das coleções, que lança a cada dois meses.
Mas que ninguém se engane: a equipe de desenvolvimento que elabora o design das joias é submetida ao crivo minucioso de Rosa, que nunca deixou ser fabricada sequer uma peça de que não gostasse muito.
– Ah, sou assim, né, amiga. Controlo tudo. E sou workaholic mesmo. Não tenho tempo para dormir. Se eu dormir, eu rodo – afirmou a agitada morena, de cabelos muito negros, no dia em que recebeu a reportagem de Donna em seu escritório de Porto Alegre para um longo bate-papo.
Louca por tecnologia, anda sempre acompanhada por três iPhones, um deles o modelo 6-Plus – que, na época da entrevista, ainda era raro no Brasil –, e dois tablets. Tentando mostrar um dos vídeos publicitários da marca, chega a se irritar com o computador que tem no QG porto-alegrense. Está acostumada a usar Mac e não consegue sequer encontrar as teclas corretas no Sony Vaio que tenta manusear no decorrer da entrevista. Mas a irritação é passageira. Bem-humorada e espirituosa, não cansa de se descrever como uma pessoa feliz, alegre e afortunada.
– O que mais eu quero? Acho que não preciso de mais nada. Sou tão feliz, tão realizada. E continuo conquistando cada vez mais. Então, amiga, acho que nem tenho como pedir mais nada da vida – diz a designer, emocionada, a certa altura da conversa.
Depois de conhecê- la, é fácil perceber como Rosa projetou, nas pulseiras, o mesmo magnetismo que ela própria carrega em sua personalidade. Para mulheres que curtem acessórios, é impossível olhar para o pulso cheio de braceletes e não ter capturada a atenção. O mesmo ocorre com a pessoa por trás das joias. Ao chegar ao estúdio fotográfico de Zero Hora para a sessão de fotos desta reportagem, Rosa veio conduzida por um motorista (detesta dirigir em Porto Alegre), e rodeada por uma assessora e um maquiador. Dispensou a produção de beleza normalmente providenciada por Donna para preparar o look ao seu gosto. Havia sido combinado previamente que sua foto seria somente um plano americano, mas Rosa levou na bolsa um Louboutin preto, just in case.
Cheia de desenvoltura diante das câmeras – “Já estou acostumada, eu mesma fazia as campanhas dos braceletes no início” –, botou para tocar o remix da música Prayer in C feito pelo DJ alemão Robin Schulz.
– Essa música é perfeita para o momento. Escutei pela primeira vez na academia, em Miami, e vi na hora que seria a trilha da nova coleção. Então, vamos ouvir enquanto fazemos as fotos, para descontrair.
Magra e com tudo em cima, Rosa confessa viver de dieta, já que sua imagem reflete a imagem de sua marca. Para ficar linda nas fotos, comeu quase que apenas balas de colágeno naquele dia. Por isso, não resistiu e pediu ao motorista que levasse, ao estúdio de Zero Hora, muitos hambúrgueres do McDonalds, para devorar ao final da sessão de fotos. Mas se engana quem pensa que ela caiu de boca no lanche assim, impunemente. Nada disso. Afinal, ela é a Rosa Leal meticulosa e que cuida para que absolutamente tudo esteja ao seu controle. Retirou, então, a carne de dentro do sanduíche, descartando o pão.
Depois do trauma, a fama
Trabalhar com joias era o sonho de Rosa desde os 13 anos, quando ela fazia acessórios de miçangas para as amigas.
De forte espírito empreendedor, desenvolvia suas criações na marca Hermitage, em Porto Alegre, no começo da carreira, no início dos anos 2000. O negócio estava indo bem quando uma sequência de cinco assaltos à joalheria em somente quatro meses a fizeram abandonar o sonho. Traumatizada e sofrendo de síndrome do pânico, foi aconselhada pelo psiquiatra a passar um tempo fora da cidade. Escolheu, então, o Rio de Janeiro para recomeçar, em 2002.
Já instalada, procurou uma academia para se exercitar e tentar exorcizar os fantasmas trazidos da terra natal. Na Bodytech da Barra da Tijuca, deu o primeiro passo para a grande virada: conheceu e fez amizade com várias celebridades enquanto malhava. Trabalhando como consultora de tendências e negócios para empresas de moda, conheceu vários países. A vida seguia, e os dois anos inteiros em que ficou distante de Porto Alegre permitiram que Rosa recuperasse a confiança para voltar a sonhar com o seu sucesso.
– Depois que me recuperei, voltei a fazer planos. Eu queria trabalhar com joias, essa era a minha verdadeira vocação. Mas, como eu te disse, eu queria ser famosa, fazer sucesso. Então, não podia ter um produto todo em ouro, que é um limitador, por causa do custo. Queria algo bonito, elegante, classudo, mas que mais gente pudesse ter.
Foi então que uma viagem à cidade italiana de Arezzo, em 2012, mudou a vida de Rosa. Ainda como consultora, ela conheceu uma pequena fábrica de joias que fazia uma pulseira de fecho revolucionário, com ímã, muito seguro e fácil de manusear. Era “a independência da pulseira”, como pensou Rosa. O problema é que a única coisa realmente interessante no produto era o fecho. O restante era mal acabado e de baixa qualidade. Mesmo assim, comprou um punhado de pulseiras do joalheiro e trouxe na mala de volta para o Brasil. Ainda sem saber ao certo o que fazer com aquilo, resolveu enviar um kit às celebridades com quem tinha contato. Era o início do Instagram no Brasil, e a surpresa foi enorme quando os famosos começaram a postar selfies com os pulsos repletos das pulseiras.
– Naquele momento eu percebi que tinha uma mina de ouro na mão. Só precisava colocar a minha cara naquele produto – relembra.
O ano foi de trabalho intenso. Para levantar dinheiro para a empreitada, recolhia joias velhas com clientes em Paris, redesenhava uma peça nova e mandava para fabricação com o seu ourives no Brasil. Assim, obteve capital para passar seis meses na Itália, aprimorando os braceletes. Assinou um contrato de exclusividade com o fabricante e impôs suas regras: matéria-prima de qualidade, somente prata e banho de ouro 18 quilates, acabamento cuidadoso e design caprichado. A dedicação foi tanta que, no fim dos primeiros meses, adquiriu uma forte intoxicação pelos produtos químicos utilizados para manipular os metais.
Quando voltou ao Brasil, em 2013, com o produto repaginado, enviou novos kits a 15 celebridades. Todas postaram.
E a coisa nunca mais parou.
– Hoje não consigo dar conta da demanda, por causa das regras de importação, já que o produto continua sendo feito na Itália. Sempre tem fila de espera – comemora Rosa.
Além do Brasil, as pulseiras são febre em países como Estados Unidos, Emirados Árabes, Rússia e Líbano. Seu maior problema, hoje, é o plágio a suas criações. Já patenteou a marca no Brasil e nos Estados Unidos e ganhou antecipação de tutela para proteger o nome Bracelete Italiano. A Justiça, no entanto, não a protege tanto quanto a criatividade: para correr na frente dos falsificadores, lança uma coleção nova a cada dois meses. A última, chamada Versailles, foi lançada há menos de um mês, em um luxuoso evento no hotel Villa di Versace, em Miami. A linha completa já tem 300 modelos. Para dar conta de tanto produto, duas outras fábricas na Itália passaram a também produzir os braceletes com exclusividade, além de uma empresa de Los Angeles, que faz os acessórios que adornam as peças. Ao todo, são mais de 200 pontos de venda pelo mundo, mas o grosso da comercialização é feito mesmo pela internet.
– Mais de 90% das vendas são feitas pelo meu Instagram. E a cada celebridade que aparece usando os braceletes, mais a coisa bomba. A Globo, por exemplo, tem mais de 400 pulseiras emprestadas lá, para usarem em produções ou nas novelas – revela.
O canal que usa para as vendas é o mesmo em que Rosa exibe o estilo de vida que conquistou. Na sua conta pessoal, o @rosaleal, ela posta fotos com celebridades e também da sua rotina em Porto Alegre, Trancoso, Punta Del Este ou Miami. Adora fotografar a si mesma dirigindo carros de luxo e usando roupas e bolsas de marcas como Dior e Chanel.
– Mas não pensa que eu sou metida, não. Canso de ir a evento e ficar vendendo pulseira para a mulherada no banheiro – diverte-se.
Na rede social, também curte as tradicionais fotos de comida. E de vez em quando aproveita para mandar um recadinho “prazinimiga” ou para os falsificadores que a atormentam. O momento “pronto falei”, no entanto, dura apenas alguns instantes. Em seguida, Rosa volta a ser a mulher bem-humorada e afetuosa que cria intimidade com seus interlocutores já no primeiro contato. Confessa ter saudade de Porto Alegre e da família, mas prefere viver nos Estados Unidos, pelo menos por enquanto. É lá que quer crescer ainda mais, espalhando pelo mundo suas pulseiras e seu otimismo.