Larissa Gargaro
Mara Mac Dowell - Sempre gostei de moda. Era aquela que dava palpites nas roupas das amigas, bolava vestidos para toda a família e devorava revistas de moda. Minha mãe costurava para mim, e minhas criações faziam sucesso no meu grupo. Mara - Comecei como compradora de um grande magazine, a Mesbla, que tinha filiais no Brasil inteiro. Foi uma grande escola e me despertou para minha verdadeira vocação. Depois, fui contratada como compradora da estilista da Mariazinha, a primeira boutique de Ipanema. Foi aí que aprendi tudo realmente, desenvolvia coleções, comprava acessórios, coisas de casa e moda. Mais tarde, passei a ser sócia da marca e, mais adiante, a ser a única proprietária. Em 2000, mudamos o nome para Mara Mac, e desde então estamos expandindo as lojas e chegando a novas praças. Mara - Não criamos moda para as cariocas, criamos um estilo de vida mais casual e despojado inspirado na cidade. É uma roupa feita para a mulher inteligente, que tem seu jeito próprio, quer qualidade e conforto para estar bem em qualquer ocasião e lugar. O Rio é uma cidade solar, cores fortes e estampas fazem parte da paisagem. Vale mostrar a pele, mas sempre insinuada através de fendas, de decotes que descubram os ombros, de recortes localizados. Não gosto quando tudo fica muito explícito. Mara - A elegância começa na atitude. Vem de dentro e salta aos olhos. Uma pessoa elegante é segura de si, confiante. A roupa apenas ressalta essa coisa natural. Saber escolher o look certo para cada ocasião e tratar a todos da mesma forma: isso é elegância. Mara - A sensualidade é subjetiva. Para mim, transparências, fendas e a insinuação das curvas do corpo bastam para despertar esse lado feminino. Minha sensualidade nunca é vulgar. É muito mais sobre a mulher do que sobre a roupa; ela é elegante porque a atitude vem dela, de dentro. Minhas musas são todas as mulheres. Várias famosas já inspiraram coleções Mara Mac: as loiras geladas, como Grace Kelly e Catherine Deneuve, foram musas de inverno; Billie Holiday inspirou uma coleção romântica, e outras que admiro ainda serão homenageadas. Mas, de agora, ninguém. Eu não penso em mulher alguma pra realizar a moda atual. A moda atual é sempre construída em cima de uma história que envolve personagens. Mara - Ah, bobagem (risos). Eu admiro muito a Chanel. Mara - Uma roupa sem qualidade, mal feita e com péssimo caimento. Mara - Nem pensar. Mara - Vejo com otimismo essa democratização da moda. Existe público para todo tipo de marca. Acredito que o menos é mais como estilo, mas esse menos não se traduz em falta de qualidade. Muito pelo contrário: para fazer a roupa minimalista, é preciso investir na textura, no corte e no acabamento impecável. Mínimo não é sinônimo de pouco, mas de simplicidade chique. Sinto saudades dos desfiles, da criação do cenário, escolha da trilha, casting, mas acho que foi importante essa parada. Fizemos lindos desfiles, memoráveis mesmo, por mais de 15 anos participamos de todos os eventos de moda carioca. Gosto de unir o estilo, a arte, o comportamento, então sempre fiz desfiles temáticos. Guardo os catálogos de todos. São muitos, viu, Larissa... (Interrompemos a entrevista para relembrar alguns momentos históricos de Fashion Rio através dos catálogos. Mara se emociona e compreende-se a importância da passarela na vida de um estilista.) Reavaliar as prioridades e optar por mostrar a coleção à imprensa e clientes de forma mais intimista tem sido interessante. Espero em breve voltar a desfilar as coleções Mara Mac. Não existe uma questão de melhor ou pior nesse caso, é apenas uma nova abordagem. O desfile ainda é a melhor maneira de mostrar uma proposta de moda, mas acho que é tempo de mudanças, de pensar fora da caixinha, de inovar. O desfile exige que você faça um pouco mais de conceito, e isso é muito bom. Quando a gente fica fazendo só looks comerciais, acaba perdendo um pouco da magia. Tenho saudades dessa época de desfiles, mas no momento em que houve essa restrição comercial - nós éramos todos patrocinados -, ficou inviável. Um desfile com coreografia, 30 manequins, você não faz por menos de R$ 400 mil ou R$ 500 mil. E ninguém tira do seu giro, especialmente em uma época difícil como está agora, né? Vejo uma mudança grande nesse cenário, principalmente no comportamento do consumidor. É tempo de inovar na criação e na comunicação das marcas de moda. Quem ficar no "mais do mesmo" vai se perder nesse processo. Também está mais competitivo porque tem muita gente. A escola de moda proporciona isso. Hoje os estilistas são heróis - está difícil começar alguma coisa. Os impostos são exorbitantes, aniquilam, e, se você não tem uma coisa estabelecida - que assim mesmo você carrega com muito sacrifício -, para começar no Brasil está difícil, principalmente do zero. O momento está terrível. Espero que isso passe. Mara - A moda brasileira é criativa e tem muito a conquistar. Admiro todos que têm coragem de criar nesse mercado instável, em que os impostos quase inviabilizam a produção das peças. São todos heróis. Os novatos trazem as novas técnicas de produção e o entusiasmo de criar. A união da experiência dos veteranos com essa força de juventude é muito positiva. Nesse tempo de rapidez da informação, transformada em pequenas pílulas de conhecimento, talvez eu sinta falta de uma preocupação cultural mais profunda. Essa cultura que serve de base para criação da moda. Mara - Não vejo dessa maneira a questão das costureiras, acho que está tudo em transformação, elas também vão ter que investir em aperfeiçoamento. Como eu tenho a modelagem feita internamente, é muito fácil de manter a qualidade. Aqui você faz uma coisa, põe no corpo, desce para ver, arruma, sobe, acabou; faz enviesado, faz fio reto... Eu não faço modelagem, só corrijo. Não sai nada sem passar por mim. Olho e já vejo onde está o defeito na manga, aqui e ali.