Há 10 anos, o nome Barbara Reis, provavelmente, não diria muita coisa a quem é fã de uma boa novela. Hoje, no entanto, quem ligar a TV no horário nobre da Globo ou buscar uma indicação de título campeão de audiência no streaming, vai deparar com a presença da atriz.
— Estou em um momento muito especial, único. É como se a vida tivesse organizado as coisas para, neste momento, estar com tudo, 100% entregue e dedicada. E muito feliz —comenta ela, em conversa por telefone, na pausa para o almoço de um dia frenético de gravações.
Aos 33 anos, a carioca que não nasceu no Méyer, mas ostenta uma bagagem de criação que atribui ao subúrbio do Rio de Janeiro, vive realmente uma fase de vibrações em alta. Ela acaba de estrear em Terra e Paixão, na pele de Aline, a protagonista, ao lado de grandes nomes da dramaturgia, como Tony Ramos, Débora Falabella e Leona Cavalli.
Ao mesmo tempo, preenche boa parte das tramas de Todas as Flores, no Globoplay, dando vida a Débora, que cresceu a ponto de ser considerada personagem-chave na novela.
Sobre esta dualidade, entre uma batalhadora que encara desafios assustadores para defender o que acredita e a malvadona que entretém, a artista revela a qual das duas empresta mais de sua personalidade.
— Sempre correlaciono a Barbara com a Aline. A gente é muito parecida. Costumo dizer que o personagem vai atrás e encontra seu intérprete. Então, tenho muito dela e ela tem muito de mim — pontua a atriz.
Antes de consolidar seu lugar no time titular de elencos dos mais relevantes do Brasil, no entanto, a artista chegou a se aventurar por outros caminhos. Sua vida profissional começou na pet shop da família, em que fazia a tosa de animais, e inclui duas faculdades interrompidas. Afinal, seu plano A funcionou, abrindo um alfabeto inteiro de oportunidades, desde 2016, quando apareceu pela primeira vez em novelas, com um papel secundário na primeira fase de Velho Chico, da Globo.
Novos capítulos também têm sido escritos em sua vida pessoal. Em um relacionamento de dois anos com o ator Raphael Najan, 39, tornou-se oficialmente noiva no dia 25 fevereiro, com direito a um pedido nada tradicional.
O casamento, contudo, ainda não está no horizonte, embora façam planos com muito romance envolvido. Na entrevista a seguir, confira mais detalhes sobre essas e outras histórias de Barbara.
Como é se ver na tela como vilã e heroína simultaneamente?
Aline e Débora são completamente opostas em relação aos seus ideais, porém, igualmente fortes. As duas lutam por sobrevivência, sabe. O ideal delas é permanecer. Elas resistem para sobreviver e essa é a ideia que faz das duas também parecidas. Estar no streaming com um trabalho – que logo vai para a TV aberta também – ao mesmo tempo em que dou vida à Aline no horário das 21h, carro-chefe da emissora, é algo que nem em meus melhores sonhos imaginaria.
Ser protagonista de dois produtos seguidos em horários um depois do outro: em um, protagonista, a principal da história, e em outro, vilã – porque, as pessoas vêm dizendo que ela realmente é a vilã de Todas as Flores – para mim, artisticamente, é um momento muito rico.
Tu chegaste a considerar outras duas profissões, certo?
Sim, há duas faculdades incompletas. Na verdade, elas entraram na minha vida em uma espécie de plano B, caso a carreira não caminhasse, pois me formei atriz primeiro. E fui tentar fazer Jornalismo para ter outra forma de me manter, mas a vida artística acabava sempre me puxando.
Aí, abandonei e fui gravar, fazer minhas coisas. Só que, naqueles períodos de “entressafra”, sempre vinha o medo, a angústia, o “será que vão me chamar para fazer outros trabalhos?”.
Não quis ficar esperando, então, me matriculei na faculdade de Produção Audiovisual, que, na verdade, nada mais é do que algo que envolve meu trabalho, só que atrás das câmeras. E fui fazer.
Até que a vida artística me convocou novamente e não consegui fazer as duas coisas juntas. Abandonei a faculdade para poder estar 100% dedicada. Naquele momento, era Velho Chico. Fiz essa novela e fui fazendo outra e outra e mais outra e não consegui voltar.
Tu costumas dizer que não temes críticas. De onde vem tua segurança?
Na verdade, parto do princípio de que ninguém sabe mais da minha personagem do que eu e quem está envolvido na construção da novela. E Walcyr Carrasco, que escreveu, é claro. Crio do zero, sei como isso acontece.
Quando ouço críticas que não têm fundamento, de pessoas que não sabem de onde partiu aquela construção, penso que não tenho que me importar. É um trabalho tão particular e profundo, que ouvir coisas não construtivas é algo que descarto.
Quando ouço algo construtivo, com certeza, vou agregar e tentar implementar na construção. Fora isso, não ligo.
Como é a tua relação com o público na internet?
Uso as redes sociais e gosto mais do Twitter, porque é um caminho mais rápido de perguntas e respostas. Interajo bastante, mas também com certo limite.
Gosto muito de expor meus pensamentos com a proposta de que participem para que eu possa falar de volta. É uma galera muito questionadora e fiel, ao mesmo tempo. Gosto de usar como um termômetro essa rede social.
Tua bio no Instagram diz que és uma “atriz do Méyer”. Qual o papel desse lugar na tua história?
A gente diz que “quem é do Méyer não bobéyer” (risos). É a grande especialidade de quem vem de lá. Me considero cria, porque é onde moro desde os seis anos até hoje.
Faz parte da minha formação como ser humano, das minhas vivências, das amizades, de quem sou. É um lugar muito especial, pelo qual tenho muito respeito.
Coloco na bio mesmo, para não esquecer de onde vim. Para abrir e pensar: “Olha de onde você veio. São suas raízes, que você não pode esquecer”. É um lugar na Zona Norte, de uma mulher que teve as bases da sua educação focadas na honestidade, no pé no chão. É sobre isso.
Como te definirias hoje?
A Barbara é tranquila, relaxada, sempre tem uma palavra amiga, mas também é muito da escuta. Às vezes, recebo chacoalhões de quem quer debater e digo que a gente precisa escutar.
Sou muito discreta e é difícil me abrir para novas interferências na vida. Meu ascendente é capricórnio, então, sou desconfiada e preciso ser conquistada nesse lugar de confiança. Para me abrir, tenho que sentir que estou em ambiente seguro.
E concordas que essa tendência à escuta leva a um maior acolhimento?
Confesso que tenho a característica de ser maternal com meus amigos. A partir do momento em que me abro, tento, de alguma forma, sempre cuidar.
E, além disso, acabo tendo percepções muito maduras de determinadas situações, mesmo com o pouco de experiência que tenho, aos 33 anos. São 13 de vida adulta... 15, 20, talvez. É pouco tempo comparado ao de uma pessoa de 50, por exemplo.
Pensas em ser mãe?
Com certeza, não é o momento. Minha única filha agora é a Aline. Mas, claro, um dia, se tudo caminhar bem, sim.
Sigo muito o fluxo da vida, mas desejo, um dia. E também, se não for, tudo bem. A gente vai preenchendo a vida com coisas que nos fazem felizes. Por enquanto, não tenho planos.
E o casamento? Vem logo?
O primeiro passo é estar noiva, né (risos)? Até tem gente que pula essa parte. Tem quem questione se ela é tão importante assim. Sou uma mulher romântica e as tradições valem muito para mim, mas não está nem perto da hora de pensar nessa possibilidade de casamento, festa.
A gente planeja, sim, mas para esse ano, não. Nem para o ano que vem. Ainda nem conversamos sobre isso.
Tu te consideras uma mulher tradicional, nesse sentido?
Não acho que os rituais tenham que ser como sempre foram. Cada um tem que ter o seu. Meu pedido de noivado não foi com jantar, nos moldes tradicionais, joelho no chão. Nada disso. Na verdade, foi uma coisa muito natural, mas rolou o pedir, trocar aliança e coisa e tal.
Como foi?
Estava voltando de uma viagem ao Mato Grosso do Sul, de gravação da novela, e ele foi me buscar no aeroporto. Lá mesmo, de uma forma até destrambelhada, ele empurrando carrinho de mala, tentando pegar a caixinha dentro do bolso (...). Abriu e foi falando umas coisas que eu não estava entendendo.
Aí, ele perguntou: “Você quer dividir a vida comigo?”. Foi dessa forma surpreendente, que acho que é o mais importante. Às vezes, a pessoa fica repetindo “quero casar” e o outro acaba ficando nesse lugar de “ai, meu Deus, preciso fazer o pedido”. Foi uma forma bem natural. O mais legal é a surpresa.
Tens alguma preocupação com a estética no dia a dia?
Na verdade, penso no autocuidado. Hoje, não vou dizer que no passado não me preocupava em relação ao corpo, mas a gente não deve tentar se encaixar em algum padrão.
Me preocupo com uma vida de qualidade, pensando na terceira idade, no que posso fazer hoje para envelhecer com saúde e que não precise de uma ajuda para coisas básicas, sabe. Então, cuido de mim na alimentação, indo para a academia, por mais que não goste, porque sei que isso vai me dar qualidade lá na frente.
Uma coisa que tem me deixado feliz é que, quando a gente cuida da saúde, faz atividade física, se alimenta bem, não tem como o resultado não refletir esteticamente. Porque não acontece do dia para a noite. Coisas que vêm do dia para a noite não são legais.
Se você não fica naquela ansiedade pelo resultado, quando menos espera, ele acontece. Me vejo numa fase feliz fisicamente e é tudo fruto dessa nova forma de enxergar.