“Essa idade não me representa” é uma frase popular da qual Rodaika discorda com veemência. A comunicadora gaúcha fez 50 anos no dia 7 de novembro e garante que cruzou essa fronteira na sua melhor forma: respeitando a soberania da sua opinião e se ouvindo mais.
Negar a idade seria ir contra o que construiu e fez dela uma mulher realizada e reconhecida pelo público do RS. Nesta nova fase, diz que está ainda mais disposta a se conectar com as pessoas:
— Fiquei tão feliz de fazer 50, que sinto que a idade me representa. O que não me representa é o que pensam sobre ela — comenta.
Rodaika tem na conta 25 anos de RBS TV, 15 de Pretinho Básico, na Rádio Atlântida, e outros vários como influenciadora digital. Não é surpresa que esteja acostumada a falar pelos cotovelos, pontuando as frases com gargalhadas e sem desviar de qualquer pergunta.
Entram em pauta alguns dos seus temas preferidos: as descobertas de bem-estar, saúde e beleza, seu desejo de viver, criar e produzir em qualquer lugar do mundo e a vontade de amar cada vez mais a família que construiu. Também é impossível ignorar as reviravoltas que moldaram sua vida — tanto as que aconteceram de surpresa, como as gestações, quanto as programadas, como a ida da família para os EUA.
Há cinco anos, Rodaika, seu marido, o comunicador Alexandre Fetter, 55 anos, e os filhos, Brenda, 29, e Théo, 18, moram em Winter Garden, nos arredores de Orlando. Esse movimento foi uma resposta à sua cobrança interna por desacelerar a rotina que levava desde os 20 anos de idade.
Diante de um novo horizonte, pôde prestar mais atenção em si e no quarteto. E olhar com mais carinho para o caminho que a colocou ali: conta que começou “remando” como repórter de notícias na TV, em programas como Jornal do Almoço, RBS Notícias, RBS Cidade e outros, até conseguir cavar um espaço para fazer o que mais queria, a comunicação mais espontânea e improvisada no Papo Clipe, no Patrola e no Mistura.
Foi feliz e reitera que tem sempre em mente honrar e cultivar a conexão que criou com os gaúchos nos últimos 30 anos. Por isso, divide-se entre o Bom Fim e Orlando, focada sempre em produzir para quem consome o seu conteúdo daqui.
Como foi a decisão de ter uma vida dividida entre EUA e Brasil?
Como fui mãe e comecei a trabalhar muito cedo, atropelei algumas fases da vida em prol de algo que queria muito, que era a carreira na TV. Só que isso, por muitos anos, ocupou muito da minha atenção. Então, começamos a pensar em possibilidades para dar uma virada na chave, juntos. Quando Brenda conseguiu uma bolsa incrível para estudar cinema nos Estados Unidos, vimos que era o momento. E a gente se adaptou muito bem a um estilo de vida onde eu e o Alexandre trabalhamos online em casa.
Sempre prezei pela trajetória longa e difícil que trilhei e tinha muita vontade de preservar a conexão com os gaúchos. E mantemos uma casa em Porto Alegre, que é onde entendemos que é nossa casa mesmo. Por outro lado, sempre fico pensando que a vida é tão rápida e tão intensa, que é importante se dar a chance de viver alguma coisa diferente. Hoje, já fico pensando “qual é o próximo lugar?”.
Foi uma virada em termos profissionais também. O que você tem feito ultimamente?
Faço várias coisas. Tenho todo um trabalho como influenciadora digital que nada mais é do que uma consequência de tudo o que construí ao longo da carreira e de ter sido sempre muito adepta às redes sociais. E a relação comercial com as marcas também foi acontecendo de forma natural. Para além disso, faço trabalhos dentro da área de marketing digital e dou consultoria para vários empreendedores. O digital é o meu maior interesse hoje.
Algo que não mudou foi sua presença no Pretinho Básico.
O Pretinho é uma hora do recreio, um momento de descontrair e também de dar opinião. Estou no ar toda terça, quinta e sexta-feira, na edição das 13h. Em 15 anos, fui amadurecendo, criando vínculo com a audiência e, por ser a única mulher no programa, acabei assumindo esse papel representativo.
Sempre digo que sou uma mulher privilegiada, mas tenho que olhar para a realidade das que enfrentam violência no ônibus, abusos dentro de casa e uma série de questões e falar sobre elas. Procuro ser uma mulher representativa no Pretinho e não tem como sem ser feminista e falar sobre feminismo, motivo pelo qual procuro fazer do programa meio que um palco para isso.
Seu Instagram tem muitos conteúdos sobre bem-estar. Como você cuida do corpo?
Sempre tive um relacionamento bom com o corpo, mas tive questões, como “ai, essa celulite, que vergonha de botar um biquíni”, sempre muito presentes. Só que, hoje, percebo que são muito mais algo da minha cabeça do que um problema real. Acho que comecei de fato a me relacionar melhor com o meu corpo quando o foco se tornou minha saúde, e isso foi motivado por episódios marcantes que vivi quando tinha 40 anos.
Um deles foi no Natal em que tive uma crise terrível de labirintite, que me levou ao hospital. Descobri que tinha sido reflexo de uma crise de estresse muito forte. E, próximo desse episódio, também encontrei um nódulo no peito, que monitoro e não é muito grave, mas deu um estalo e me fez pensar na finitude da vida. Foi aí que comecei a colocar como prioridade o que é realmente importante para mim.
Minha cabeça está ótima, tenho energia, estou mais madura e me conheço melhor.
RODAIKA
Apresentadora
Tem algum penso especial para a alimentação?
Sou a pessoa que olha bem o que vai comer. Consegui criar o que é o “de vez em quando” e o que é a “rotina”. Busquei aprender muito sobre importância nutricional dos alimentos, me alimentar pensando na saúde, e isso inevitavelmente me fez ficar um pouco mais magra. A verdade é que o meu corpo é um reflexo das escolhas que vou fazendo. E todos os dias faço algum tipo de exercício para não ficar parada, porque sei que assim vou dormir melhor.
Desde que fiz 50 anos, brinco que queria estar realmente “na metade da minha vida”, o que significaria viver até os 100 anos. E, para poder viver mais uma série de coisas que minha cabeça tem vontade, o desafio é fazer meu corpo acompanhar.
Fazer 50 incomodava de alguma forma? Houve alguma preparação?
Lembro que logo depois que fiz 49 já fiquei muito ansiosa por fazer 50, porque fiquei pensando “cara, não acredito que 50 anos é assim!”. A experiência que tinha era de ver a minha avó nessa idade já como uma senhora.
Pensava que o processo natural fosse assim, mas me sinto da mesma forma que me sentia quando tinha 30, em termos de vontade e desejos. Então, fiquei muito feliz, porque minha cabeça está ótima, tenho energia, mas estou mais madura e me conheço melhor, o que faz com que me estresse menos com um monte de coisas que antes me tiravam do sério.
Como você encara os procedimentos estéticos?
Sempre pensei: “quando alguma coisa me incomodar, vou fazer de boa”, desde que com um profissional que respeite cuidados para eu não perder as características do meu olhar, não acabar me olhando no espelho e vendo algo que não sou. E foi isso que aconteceu. O que saiu daqui (das pálpebras, de onde retirou excesso de pele) não alterou o formato do meu olhar e foi um ganho em qualidade de vida.
Depois que fiz, pensei “que bom que me permiti um tempo para isso”. Já estou quase totalmente recuperada, tive apenas um pouco de inchaço. Posso dizer que estou até enxergando melhor, antes meus olhos estavam muito fechados por conta da flacidez da pele que caía sobre os cílios, muito incômoda.
Desde o início da carreira, o que mais mudou em você?
Sempre conversei comigo 24 horas por dia, só que antes não me escutava, falava muito em nome de uma outra pessoa, ficava muito preocupada com o que o outro iria pensar. Acho que isso era até por conta da profissão que fazia me questionar: “Será que estou contando essa história direito? Será que essa imagem está boa?”. Com o passar do tempo, fui ouvindo mais o que eu gostaria, já com a maturidade de quem pode opinar, e passei a contar menos com a opinião do outro. E essa mudança impactou toda a minha vida, me fez ter o controle.
Qual a sensação de ter uma filha beirando os 30 e um filho chegando aos 20?
A Brenda é minha companheira desde sempre. Ela veio de surpresa no auge da minha imaturidade, fruto de um namoro que era uma relação quase adolescente. Mas a partir do momento em que engravidei, já senti uma transformação. Logo depois que ela nasceu, entrei no projeto Caras Novas da RBS. Ela me acompanhou em toda a minha trajetória, a ponto de, muitas vezes, a colocar embaixo da bancada do estúdio, na cadeirinha, enquanto apresentava um jornal ao vivo num plantão de sábado.
Com o Théo, logo que voltei da licença maternidade entrei no Patrola, então a minha vida virou um turbilhão. Até os 12 anos dele ficamos nessa loucura, depois deu uma acalmada. Hoje são dois adultos muito preparados para viver a vida deles e fico muito orgulhosa pelas escolhas que eu e Alexandre fizemos.
Desde 2000, você e Fetter estão juntos, sendo colegas de trabalho em boa parte dos anos. Como levam essa relação?
Fico chocada com esse tempo porque a gente não tem exatamente uma relação tranquila, são duas personalidades muito intensas e os embates são quase diários. Mas é claro que, com o tempo, vamos entendendo o jeito um do outro, cedendo um pouco. Eu vejo com muita clareza que a história com o Alexandre veio para ser muito definitiva.
Eu o conheci ouvindo rádio, lá pelos meus 16 anos, e mais tarde quando passei a trabalhar na RBS tínhamos uma relação cordial. Até que num determinado momento uma amiga em comum acabou fazendo papel de cupido. Eu já era mãe de uma menina de nove anos e não pensava em ser mãe de novo, mas aconteceu e para ele foi meio que um sonho ser pai.
Eu e o Alexandre sempre tivemos uma relação muito intensa, a gente já sabe que vai brigar por algumas coisas, mas escolhemos estar juntos, então lutamos com os “contras” e nos grudamos nos “prós”, que são as coisas positivas da nossa relação.
O que está planejando para os próximos anos?
Profissionalmente, tenho muita vontade de produzir algum programa ou conteúdo onde possa voltar a entregar algo para o público com frequência e compromisso, seja um programa, canal ou mesmo uma temporada na TV. Será algo em que possa explorar este meu novo momento, com novas ideias e uma nova cabeça.
Tenho percebido que as pautas sobre as quais tenho vontade de falar hoje estão conectadas principalmente com quem tem a minha idade, mas também estão conectadas com quem é mais jovem, porque, querendo ou não, todo mundo vai passar por esse processo.