A cantora Preta Gil participou do programa Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta quarta-feira (17) e falou sobre ser um símbolo da diversidade no Brasil. Na conversa, ela explicou que sua criação foi determinante para que não tivesse medo de expor sua autenticidade desde cedo, como nas famosas fotos do álbum Prêt-à Porter, de 2003, em que aparece nua.
— Quando comecei a minha carreira, há 20 anos, eu levantava pautas como o empoderamento, que nem tinha esse nome na época. A minha liberdade em posar nua para a capa daquele disco, com o corpo que eu tinha, e me assumir bissexual, uma mulher negra, gorda... Aquilo tudo, há 20 anos, foi um combo de choque para a sociedade. Eu não imaginava que ia acontecer a repercussão que aconteceu porque, como sou filha de tropicalistas, do tropicalismo, eu fui uma criança criada nesse ambiente diverso. Isso é uma coisa que faz parte da minha vida. A minha formação é na diversidade. Então, para mim, era muito natural assumir quem eu era. Eu não tinha porque me lançar como cantora em um trabalho artístico fingindo ser uma coisa que eu não era — afirmou ela, que é filha do cantor Gilberto Gil.
Porém, após o lançamento do álbum, Preta relata ter sofrido com as críticas negativas do público.
— A partir daquele momento, foi uma enxurrada de críticas, de opressões, que hoje temos nome para elas. Foi uma enxurrada de racismo, gordofobia, homofobia, machismo, que eu obviamente em um primeiro momento não soube lidar. Tentei me enquadrar nos padrões, tentei ser uma pessoa mais de acordo com a opinião alheia, com a mídia de modo geral. Isso foi muito triste, porque quando você se rende a essas opressões, se anula como pessoa e se perde — refletiu.
Com o tempo, retomou a confiança trabalhando sua autoestima e identidade. Hoje, percebe que os movimentos sociais ajudam quem pretende trilhar o mesmo caminho.
— Me reencontrei. Comecei todo o meu trabalho de fortalecer minha autoestima e minha identidade. Isso veio em um processo que hoje a gente vê de fato acontecendo não só no Brasil, mas no mundo. Indivíduos tendo a sua identidade respeitada. Por mais que a gente ainda sofra todas essas opressões, os coletivos se uniram, as mulheres se uniram, a comunidade LGBT+ se uniu, os movimentos negros se uniram. Então hoje temos voz, espaço, respeito. Mas, principalmente, hoje a gente se assume — concluiu.