Em entrevista ao jornal O Globo, publicada nesta quarta-feira (18), a atriz Juliana Paes desabafou sobre a repercussão do seu vídeo falando sobre política, que foi publicado no Instagram em junho e virou um um dos assuntos mais comentados das redes sociais, dividindo a opinião de artistas e fãs.
Na gravação, a global comentava o atual cenário político do país, reclamava da cobrança para se posicionar politicamente e declarava não concordar com "ideais arrogantes de extrema-direita" ou com "delírios comunistas da extrema-esquerda". Para a publicação, a artista relatou que a publicação tomou uma proporção maior do que ela podia alcançar.
— Fiquei instável, me desestabilizou. Pensei: "Fui respeitosa, não fui agressiva, o que pode ter feito surgir algo raivoso?". Talvez, tenha subestimado meu poder de opinião. Tomou uma proporção maior do que eu podia alcançar. Recebi mensagens de Brasília, de advogados, juízes. Minha assessoria fez uma triagem do que era relevante ler. Porque era impossível ler tudo. Eu vivia um momento ótimo, quieta, cuidando das crianças. Mas comecei a receber mensagens e indiretas que me trouxeram aquela velha sensação de angústia. Não fiz aquilo para ninguém, só queria falar de mim. Talvez tenha levantado a bola sobre uma questão séria que vivemos, a dificuldade de conversar sem romper. E também sobre a real liberdade de escolha em se posicionar.
A artista ainda opinou que "o debate público está falido".
— Ninguém está disposto a ouvir o outro. Ninguém conversa de verdade. As pessoas precisam estar mais comprometidas com o resultado de seus debates do que com ganhar ou perder uma guerrinha verbal. Debater ideias não tem a ver com atacar, colocar o outro no lugar de quem não sabe nada, dizer que ele vive numa bolha porque não concorda com o tudo que você diz. Estamos cada vez mais bélicos, coisa que sabem fazer é ofender. Não vivo no mundo de Sofia, sei que não teremos consenso em tudo, mas temos que poder conversar. Nunca defendi político, defendo a livre circulação de ideias. Quero que as pessoas possam defender suas ideias não importando qual é o espectro político partidário a que essa ideia corresponde. Posso ter uma ideia conservadora e defender outras mais progressistas. Centro, centro-esquerda, centro-direita... Deixa que os políticos se limitem a essas definições — afirmou.
Na entrevista, Juliana também falou sobre quem criticou seu discurso por focar na polarização entre esquerda e direita e não na gestão da pandemia no Brasil.
Não quero ter que falar sobre assuntos políticos diariamente para ser aceita
JULIANA PAES
— Se teve uma coisa que fiz foi apoiar a vacina. A gestão da pandemia foi desastrosa. Tudo foi resolvido no gatilho, no improviso. Mas adianta eu falar sobre isso todo dia? Cobrar os meus colegas? Até que ponto é eficaz na resolução do problema ou está gerando mais briga e polarização? Cada vez que se fala algo somos colocados de um lado da trincheira... Tem muita gente como eu que acha que o enfrentamento da pandemia foi ruim, mas se sente acuado. A gente tem que poder se sentir livre para falar ou calar sem ser tachado de militante ou omisso. Quantas vezes é preciso falar para ser considerado uma pessoa? Para entenderem que estou atenta? Talvez não seja saudável para mim fazer isso todo dia — disse ela.
— Sou a favor dos grupos que militam por causas importantes e acho necessário nós, que temos visibilidade, darmos apoio. Faço isso sistematicamente repostando conteúdos que agregam valor, comentando em lugares com visibilidade. Sou embaixadora da ONU para assuntos de violência contra a mulher. Só não quero ter que falar sobre assuntos políticos diariamente para ser aceita, para ter um lugar de valor. Esse selo de validação moral tem adoecido as pessoas.
Por fim, negou "enxergar a possibilidade real de o comunismo ser implantado no Brasil".
— Não se pode tirar uma frase de um discurso e dizer que é a ideia da pessoa. Não tem a ver com uma ameaça. Até porque, a nossa economia é liberal.... Poderia ser um pouco mais... Mas não daria conta de instaurar isso. Quando falei isso fiz questão de mencionar os espectros extremos para dizer que eles estão se retroalimentando nesse lugar do ódio.